Idosos buscam alternativas para continuarem morando sozinhos


(Folha de São Paulo) – 10/05/16

É mais provável que você passe sua velhice morando sozinho, com amigos ou numa instituição do que na casa dos filhos, como era comum em outras gerações. Especialistas em envelhecimento dizem que os arranjos do passado –quando os idosos costumavam se mudar para casa dos filhos quando começavam a precisar de auxílio–, tendem a ficar menos comuns, cedendo espaço para instituições de longa permanência e para novos arranjos, como as repúblicas da terceira idade.

“Hoje, a maior parte dos idosos brasileiros vive em suas próprias casas. Os que precisam de ajuda ainda têm os filhos como primeira opção, mas essa é uma solução complicada já que tanto as casas quanto as famílias diminuíram”, diz Marília Viana Berzins, assistente social do Observatório da Longevidade Humana e do Envelhecimento.

Em seu livro “70Candles! Women Thriving in Their 8th Decade” (Setenta velas: mulheres florescendo em sua oitava década, em tradução literal) as pesquisadoras Jane Giddan e Ellen Cole aconselham que depois de “certa idade” –embora nem elas arrisquem um palpite para esse número mágico–, devemos traçar planos de permanência ou de fuga do ninho, a depender das condições e vontades de cada um.

“Nos EUA, quase 90% das pessoas com mais de 65 anos planeja envelhecer em sua própria casa, mas poucas tomam medidas para isso, como rever a acessibilidade dos cômodos e pensar no que pode ser feito para tornar o lugar seguro”, diz Giddan, que é professora de psiquiatria da Universidade de Toledo.

Para ela, um pouco de planejamento pode prolongar a independência e permitir que as pessoas tomem as rédeas do próprio envelhecimento. Ela lista desde reformas e mudanças de bairro até um arsenal tecnológico de aplicativos de celular que compartilham a localização com familiares em tempo real e câmeras de monitoramento doméstico.

“Conheço grupos de pessoas mais velhas que moram próximas e dividem um cuidador, conheço amigos que compraram um terreno para construir casas e serem todos vizinhos. As pessoas estão buscando alternativas, até porque residenciais para idosos costumam ser ruins ou caríssimos e quase ninguém gosta da ideia de morar com parentes”, diz Giddan.

No Brasil, já existem serviços como o Telehelp, que monitora clientes que vivem ou passam boa parte do dia sozinhos. “A pessoa usa uma pulseira ou colar com um botão de emergência que pode ser acionado em casos de quedas, por exemplo”, explica Juliana Barieirom, diretora da empresa que atende 10 mil clientes no país. O plano básico custa R$ 135 por mês, outros mais caros incluem telefonemas diários e a instalação de sensores de fumaça.

Idosos que não moram sozinhos ou com seus companheiros costumam viver com parentes, sobretudo com filhas mulheres, afirma Berzins. Segundo levantamento feito em 2009, apenas 1% dos idosos brasileiros vive em instituições de longa permanência (ILPIs, termo corrente para asilos e casas de repouso). A maioria (65,2%) dessas casas é filantrópica. As públicas somam apenas 6,6%, com predominância de instituições municipais.

Mas esse mesmo estudo, feito pelas pesquisadoras do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Ana Amélia Camarano e Solange Kanso, aponta tendência de crescimento das instituições privadas com fins lucrativos: elas somam 57,8% das instituições criadas a partir de 2000.

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