(Gazeta do Povo) 21-04-2010
Depois de 12 meses de queda, março marcou o quinto mês consecutivo de alta nas vendas do setor de construção.
Crescimento é reflexo do bom momento do setor de construção civil e da base de comparação baixa
A indústria de materiais de construção apresentou crescimento de quase 20% no acumulado do primeiro trimestre de 2010 em relação ao mesmo período do ano passado. O resultado foi impulsionado pelo apetite das grandes construtoras, estimuladas pelos incentivos governamentais no setor da construção civil, como a extensão do prazo de desoneração do IPI dos materiais de construção até o fim do ano, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o programa Minha Casa, Minha Vida.
O resultado superou as expectativas do setor, que esperava um resultado de 15% para os três primeiros meses do ano. Os números, no entanto, mostram um quadro de recuperação da indústria de materiais de construção, que chegou a acumular queda anualizada de 17% com a crise econômica – resultando em uma base de comparação baixa.
Março foi o quinto mês consecutivo com variação positiva do faturamento das vendas do setor na comparação com o mesmo período do ano anterior, após 12 meses consecutivos de quedas. Na comparação anual, março apresentou crescimento de 25,8%. Frente a fevereiro o avanço foi de 22,6%. Já no acumulado dos últimos 12 meses, o índice ainda apresenta queda de 4,89%.
“O crescimento elevado foi observado tanto nos materiais básicos como nos de acabamento, refletindo a expansão da atividade do setor como um todo”, avalia a Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat). A entidade aposta na continuidade do crescimento acelerado nos próximos meses.
Projeto quer reduzir a informalidade
Taiana Bubniak, especial para a Gazeta do Povo
Foi lançado ontem, em Curitiba, um projeto que busca promover a formalização de empregados por meio da articulação de redes locais. A iniciativa, chamada de “Redução da Informalidade por meio do Diálogo Social”, é do Departamento Instersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e conta com financiamento do Fundo Multilateral de Investimento (Fumin) do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O valor estimado do investimento é de US$ 1,12 milhão.
Na capital, o setor da construção civil vai ser o foco do projeto. A meta é formalizar no mínimo 1.250 trabalhadores nos próximos 3 anos. De acordo com a coordenadora do programa, Rosane Maia, o segmento emprega cerca de 137 mil pessoas na região metropolitana de Curitiba, mas a taxa de informalidade chega a 47%.
“Nosso objetivo é fazer um trabalho coletivo para mobilizar a redução de trabalhadores desprotegidos dos direitos trabalhistas, dando visibilidade ao tema e construindo propostas e políticas que apontem para uma solução”, afirma o diretor técnico do Dieese, Clemente Gunz Lúcio.
Pesquisa
Setor prevê crescimento nos próximos seis meses
A indústria brasileira da construção civil está otimista, e aguarda um bom nível de atividade e de novos empreendimentos para os próximos seis meses. É o que revela a pesquisa Sondagem da Construção Civil, realizada mensalmente pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
No último levantamento, feito em março, o otimismo do setor se manteve estável em relação aos índices observados nos meses anteriores. A expectativa de atividade para os próximos seis meses caiu 1,1 ponto, para a marca de 67,3 pontos; mesmo assim, ficou bem acima da linha dos 50 pontos, que separa as tendências de otimismo e pessimismo. O mesmo ocorre com a expectativa em relação a novos empreendimentos, que caiu de 68,2 para 67,4 pontos.
Para o presidente da Fecomaco-PR, Adriano Montanari, o mercado aquecido não deve resultar na inflação dos preços para o consumidor. “[No varejo] os preços estão estáveis, e devem continuar assim nos próximos meses”, avalia.
Rogério Martini, da Acomac, avalia que a prorrogação da redução do IPI ajudou a estabilizar o mercado. A desoneração proporcionou uma queda média entre 3% e 5% no preço dos itens beneficiados. “[A prorrogação do IPI reduzido] evitou uma corrida às lojas, que poderia ter resultado na falta de alguns produtos e consequentemente no aumento dos preços”, avalia. (ACN)
“Basicamente, não é apenas a construção formal que anima o setor. Quando a economia está estável, as pessoas se encorajam e a tão sonhada reforma do imóvel acaba saindo do papel. Tudo isso alimenta a cadeia e tem reflexos na economia como um todo”, avalia o consultor do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Paraná (Sinduscon-PR), Marcos Kahtalian.
Segundo o presidente da Federação das Associações dos Comerciantes de Materiais de Construção do Paraná (Fecomaco-PR), Adriano Montanari, apesar de aquecidas, as vendas do varejo não acompanham o mesmo ritmo apontado pela indústria. Isso porque cerca de 90% das vendas no varejo são formadas pelo chamado “consumidor formiguinha”, que compra materiais em pequenas quantidades para reformas e benfeitorias em imóveis próprios, com gasto médio de R$ 400 por compra.
Este é o caso do casal Juliana Silva Merege e Márcio Salmos, que desde novembro do ano passado vem tentando concluir a reforma da casa. “Compramos de acordo com o que precisamos no momento. Devido ao preço, achamos melhor ir gastando aos poucos, por isso a reforma está demorando para sair”, explica Salmos, que agora pretende terminar a rerorma do banheiro.
Já a professora Luciane de Albuquerque optou por comprar de uma só vez todo o material de acabamento para finalizar a construção de sua casa nos próximos dois meses. Como a compra ficou em R$ 10 mil, ela financiou o valor no cartão de crédito da própria loja, em dez vezes sem juros.
Segundo o vice-presidente da Associação dos Comerciantes de Materiais de Construção de Curitiba (Acomac), Rogério Martini, o varejo da construção teve crescimento médio de 5% no ano passado, e espera um acréscimo de 8% em 2010.
“A melhoria do padrão de renda e a recuperação de empregos têm ajudado o mercado. Boa parte dos consumidores que migrou de uma classe social para outra está aproveitando os incentivos governamentais para recuperar o consumo reprimido”, avalia.
Martini aponta o financiamento através do Construcard, da Caixa Econômica Federal, como grande alavancador das vendas. “Seguramente, grande parte do crescimento está relacionado à essa forma de crédito. Isso vale para as pequenas, médias e grandes lojas.”