A importância do briefing


(Arquitetura e Construção, por Vinicius Abbate)

Um briefing adequado é o primeiro passo para o sucesso de um projeto. A qualidade das informações iniciais, diretrizes do projeto de arquitetura, é essencial para que o arquiteto entenda as necessidades de seu cliente e desenvolva um trabalho em sintonia com esses anseios.

Essa etapa do projeto ganha importância com a consolidação das certificações de sustentabilidade e a perspectiva de exigibilidade da norma de desempenho. É nesse momento, por exemplo, que o cliente define a performance que deseja do projeto, e que o arquiteto começa a traçar as estratégias nessa direção.

Para a arquiteta Bela Gebara, sócia do escritório Gebara Conde Sinisgalli Associados, é importante esclarecer o verdadeiro escopo dessa fase preliminar dos trabalhos. “O briefing não dita soluções e, sim, necessidades do projeto”, afirma. “É o projeto arquitetônico que trará as soluções espaciais, funcionais e estéticas.”

Na maior parte dos casos, o arquiteto produz o briefing em conjunto com o cliente. Em geral, um bom projeto é resultado da cooperação entre o cliente e o escritório de arquitetura. É função do arquiteto estabelecer um método de trabalho e uma forma de comunicação com o cliente que lhe permita extrair as informações necessárias para o desenvolvimento do projeto.

Corporativos

Clientes empresariais, que possuem processos bem definidos e bastante técnicos, normalmente participam mais ativamente da etapa de discussões sobre o projeto. Em alguns casos, o cliente impõe uma série de requisitos durante o briefing.

Quando necessário, no entanto, os arquitetos podem e devem questionar o cliente. “É essencial que o arquiteto participe da construção do programa e dos parâmetros de custos juntamente com o cliente, auxiliando na equalização de possíveis exageros, para mais ou para menos”, afirma Marcelo Morettin, sócio do escritório Andrade Morettin.

Falta de objetividade

Quando o cliente não sabe dizer o que deseja do projeto é preciso que o arquiteto provoque essa consciência. Isso pode ser feito, por exemplo, pela apresentação de um estudo preliminar. Depois de apresentado, normalmente, o cliente reage positiva ou negativamente, deixando transparecer seus desejos e necessidades.

“Isso acontece em várias situações. É importante, quando não se consegue as informações conscientemente, perceber, por meio gestos, olhares e sentimentos, os desejos do cliente”, afirma Ivo Mareines, do escritório Mareines Patalano Arquitetura. “Tentamos fazer o que acreditamos. Se o que acreditamos satisfaz o cliente, melhor, se não, tentamos convencê-lo ou pedimos que ele nos convença. Não implementamos ideias que consideramos erradas”, continua.

Reuniões

Para a definição dos parâmetros iniciais de projeto, são necessárias uma reunião de trabalho (para discussão de programa, parâmetros de custos) e uma visita ao terreno. O tempo gasto nesses entendimentos iniciais depende muito do nível de objetividade do cliente. Em geral, é realizada uma primeira reunião, que dura aproximadamente duas horas. A partir dessa conversa, e com levantamentos de fotos e medidas em mãos, é possível dar início ao projeto.

Evitando Equívocos

Um briefing mal realizado pode gerar erros de conceito e resultar em um estudo que não atende às necessidades do cliente. Quando as premissas por ele assumidas são equivocadas, é função do arquiteto apontar e demonstrar os pontos incoerentes e apresentar alternativas.

Um briefing malfeito também pode significar riscos para os processos internos da empresa de projeto de arquitetura. O cliente, ainda que possa ser responsável por informações imprecisas, erradas ou incompletas, sempre imputará ao arquiteto as eventuais falhas desse processo. Dessa forma, o arquiteto deve atuar no sentido de estruturar o procedimento de briefing para minimizar essas falhas, encaminhando corretamente o início do projeto. “O briefing deve ser visto como parte de um processo maior, que é o processo de projeto, cujas fases e atividades devem estar bem definidas, para que não se apresentem limitações ao processo criativo que caracteriza a produção do arquiteto”, afirma Silvio Melhado, professor da Poli-USP.

Estrutura do briefing

Existem clientes que sabem objetivamente o que desejam de um projeto de arquitetura, e fornecem uma maior quantidade de informações que serão úteis durante o processo de concepção do trabalho. Por outro lado, há clientes que não têm uma noção tão clara sobre o que desejam do arquiteto. Para evitar informações escassas ou de má qualidade durante o briefing, aconselha-se estruturar o procedimento de coleta de informações.

  1. Informações sobre o terreno: localização, clima, topografia, vegetação existente, características do entorno
  2.  Programa: quais serão os ambientes destinados a cada atividade realizada no imóvel
  3. Performance do edifício: itens como a categoria de sustentabilidade almejada ou o nível de desempenho devem ser definidos nas primeiras reuniões
  4. Preferências do cliente: conhecer as expectativas do cliente pode ajudar na elaboração de um projeto mais atraente
  5. Prazos: o grau de urgência de entrega do projeto pode ser determinante na escolha da tecnologia construtiva
  6. Orçamento: os parâmetros de investimento do cliente dão ideia sobre as dimensões do projeto, os materiais utilizados etc.
  7. Função e imagem da empresa: em projetos corporativos ajudam a definir o estilo do escritório, o tipo de mobiliário, dos acabamentos e dos elementos decorativos
  8. Hierarquia, organograma e fluxograma: itens importantes para a distribuição dos espaços de trabalho, de reunião e das áreas de circulação no escritório

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