(Valor Econômico) – 28/03/16
As incorporadoras têm um ano desafiador em que a tomada de decisão de lançamentos está vinculada à venda de estoques, aos novos distratos e ao ritmo de comercialização dos projetos recentes, além da influência dos rumos da economia e da política na confiança do consumidor. Os cancelamentos de vendas de imóveis continuam sendo o maior o problema do setor.
Além de pressionar estoques, os distratos resultam em reversão de receita e têm levado à necessidade de provisões elevadas pelas incorporadoras. O cenário desfavorável de crédito pode provocar novos cancelamentos de vendas. A Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) estima que os financiamentos com recursos da poupança vão cair 20,6%, neste ano, para R$ 60 bilhões.
Até o fim de 2015, analistas esperavam que o volume de lançamentos de imóveis não fosse crescer em 2016, mas ainda não havia clareza se o mais provável seria a estabilidade do Valor Geral de Vendas (VGV) lançado ou nova queda. No fim do primeiro trimestre, a perspectiva que haverá nova retração do volume de lançamentos está mais forte. Se isso for confirmado, será o quinto encolhimento consecutivo do setor.
Em conjunto, Cyrela, Direcional Engenharia, Even, EZTec, Gafisa, Helbor, MRV, Rodobens , Tecnisa e Trisul lançaram R$ 11,2 bilhões no ano passado, 33,6% abaixo do VGV de 2014. O cálculo considera somente a parte própria das empresas nos lançamentos. As vendas contratadas somaram R$ 12,31 bilhões, 10,3% acima dos lançamentos de 2015, mas 21,8% abaixo do valor comercializado em 2014.
De novembro de 2015 a janeiro deste ano, os lançamentos caíram 14,8%, na comparação anual, para 19,4 mil unidades, conforme o índice Abrainc-Fipe. O indicador foi desenvolvido pela Associação Brasileira das Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) em parceria com a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) e considera informações de 19 incorporadoras. Em janeiro, os lançamentos somaram 1.697 unidades, 4,3% acima do primeiro mês do ano passado.
As vendas encolheram 6,6% de novembro a janeiro, ante o intervalo equivalente anterior, para 24.293 unidades, segundo o índice Abrainc-Fipe. A queda das vendas foi de 21,8% em janeiro, para 5.530 unidades. Os distratos somaram 11.854 unidades no trimestre, com queda de 6,9% ante o período de novembro a janeiro. Em janeiro, foram distratadas 2.804 unidades, 26% abaixo de um ano antes.
Incorporadoras evitam estimativas de lançamentos e tem sido recorrente a afirmação de que a apresentação de novos projetos dependerá do ritmo de vendas e do mercado. O foco continua a ser a venda de estoques e geração de caixa pelas incorporadoras. MRV e Tecnisa estão entre as empresas que geraram caixa em 2015 e estimam manter a condição em 2016.
A Even consumiu caixa em 2015, mas afirma esperar geração recorde neste ano, no qual projeta entregas de R$ 2,5 bilhões. A Tecnisa planeja operar com tamanho menor, focada na Região Metropolitana de São Paulo e em empreendimentos com unidades de até R$ 400 mil. A MRV vai elevar seu volume de lançamentos nas capitais e cidades mais populosas, neste ano, na busca de manter e, eventualmente, aumentar as vendas em relação a 2015. A divisão Gafisa tem projetos para lançar “R$ 1 bilhão ou mais”, mas o volume dependerá do cenário em 2016.