(O futuro das coisas – Rom Justa) 1.02.2019
Inovar não é privilégio de gênios criativos. A constatação parece navegar na contramão das inúmeras biografias que contama saga de “gênios solitários” lutando contra tudo e contra todos para trazer sua visão à realidade. Steve Jobs e Elon Musk são talvez os personagens mais recentes nessa mitologia.
Mas e se tudo isso não passar de uma romantização publicizada de um processo muito mais pé no chão, trabalhoso e menos glorioso… a verdadeira inovação, um processo sistemático de conexão de pontos e referências distintas, que forma fragmentos de ideias a serem desenvolvidos em rede até gerarem, após muita tentativa e erro, pequenas (ou enormes) revoluções de mercado?
Esta visão pragmática da inovação enquanto processo é cara a um dos maiores experts globais no tópico, Hitendra Patel. Descendente de indianos e nascido na Zâmbia, Patel é um dos fundadores e atual gestor do IXL Center, consultoria global de inovação sediada nos EUA e com escritórios espalhados por diversos países, eleita pela Forbes em 2016 como um dos mais importantes centros de inovação do mundo.
Patel vem liderando processos de inovação e disrupção há décadas, iniciando sua carreira na Motorola, em que chefiou a unidade global de Novos Negócios no final dos anos 90. Desde então, foi um dos cofundadores do núcleo de inovação do Monitor Group (adquirido pela Deloitte em 2013), membro da Clinton Global Initiative, cofundador de um dos mais renomados institutos de inovação do mundo (o GIMI, Global Innovation Management Institute, sediado em Boston) e em parceria com escola de negócios Hult, onde ensina, participou da criação do Hult Prize, a maior aceleradora de negócios sociais do mundo.
O Brasil é parte importante nesta trajetória. Patel, ainda nos anos 90, cofundou a Pollux Automation em Santa Catarina, numa das pioneiras operações de venture capital brasileiras. Hoje, vem atuando junto a governos e algumas empresas brasileiras como consultor e membro de conselhos. O que ele acha do perfil de inovação de nossas companhias?
“Existe uma mentalidade de querer ser global, outra de ser melhor que os competidores, mas a principal mentalidade, que é um desafio para o Brasil, é que poucos dos empreendedores ou inovadores destas empresas querem ser pioneiros. Eles sempre perguntam se alguém já fez antes, com receio de ser os primeiros“, afirma nessaentrevista.
Mas por acaso a inovação não seria possível somente comgrandes somas de recursos em pesquisa e desenvolvimento? Sabe-se que o Brasil fica bem atrás em capital investido na área se comparado a potências como China, EUA, Alemanha e Japão. Isto explicaria em parte a nossa perene dependência em produzir e exportar bens de baixo valor agregado e commodities?
Sem dúvida pode ser fácil inovar com dinheiro, mas nem sempre este é o caminho mais eficiente ou de maior impacto! Segundo Hitendra:
“Pessoas inovadoras encontram soluções mesmo sem dinheiro. Os não inovadores pensam que dinheiro resolve tudo. Aescassez nos faz pensar diferente e nos faz buscar soluções diferentes. Dinheiro na realidade é um problema. Com o dinheiro você acaba acomodado e o desperdiça para encontrar soluções. Sem dinheiro, você buscará parceiros e alternativas e é assim que a inovação surge.”
A criação de redes de parceria é um dos axiomas propostos por Patel para a inovação de impacto. Inovar é conectar pontos de uma maneira inédita, não necessariamente reinventar a roda. Com frequência é somente um rearranjo de ideias, recursos e produtos que já existem. “Apple e Facebook só empacotaram de forma atrativa o que já havia sido criado antes”, afirma, complementando: “a tecnologia em si quase não é mais uma vantagem competitiva. A grande vantagem é a integração das tecnologias para criar coisas novas. Integrar é conectar pontos e quanto mais pontos tiver, mais capaz de inovar com impacto”.
Esses “pontos” são uma analogia a diferentes fontes de conhecimento, informação e contatos: “em negócios, os pontos são os seus fornecedores, ou entender o que seus clientes precisam, ou entender mais sobre seus competidores no seu país e em outros, ou ter parcerias tecnológicas, de negócios etc. Cada um desses aspectos te soma mais pontos para conectar-se ao total”, exemplifica Patel.
Steve Jobs e Elon Musk? “Todo mundo, a princípio, pode ser umSteve Jobs ou Musk”, acreditaPatel. “Eles usam métodos para pensar e se tornam gênios porque têm mais ‘pontos’ e por isso conseguem visualizar mais imagens e cenários”.
A inovação tem muito mais a ver com comportamentos e atitudes do que com recursos financeiros, capital ou investidores, tampouco é uma “caixa preta” difícil de desvendar! Disseminar esta cultura mais realista e pragmática de inovação pode ser o grande diferencial para o futuro competitivo de ecossistemas e de países inteiros.
“No fim, o segredo da inovação são os 3Ps”, brinca Patel, “Paixão, Persistência e Paciência.
Esta notícia não é de autoria do Blog Mercado Imobiliário. Os créditos e responsabilidades sobre a matéria acima pertencem ao veículo original, conforme endereço disponibilizado no link: https://ofuturodascoisas.com/a-inovacao-nao-e-uma-caixa-preta/
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