MCMV de madeira


(Construção Mercado)
04/09/13

Conheça a tecnologia e os custos de construção do primeiro empreendimento em wood frame do programa Minha Casa, Minha Vida

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Está em fase final de acabamento o primeiro empreendimento do programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV) construído em wood frame. Localizado em Pelotas (RS), o Residencial Haragano está enquadrado na Faixa 1 do programa (para famílias com renda mensal de até R$ 1,6 mil) e possui 280 unidades com 45 m² de área cada uma, sendo 270 sobrados e dez casas térreas com projeto de acessibilidade. O residencial foi projetado pela construtora Roberto Ferreira em parceria com a Rede iVerde, braço da Tecverde, empresa curitibana responsável pela tecnologia wood frame.

As moradias populares começaram a ser erguidas em agosto de 2012 e, no início deste ano, todas já haviam sido construídas e entregues à etapa de acabamento, que está sendo feito manualmente, da forma tradicional. Em média, uma unidade e meia foi montada por dia. A expectativa é que o residencial seja entregue até outubro próximo – em setembro a prefeitura iniciou o processo de seleção dos moradores. O sistema, que utiliza madeira de reflorestamento transformada por processo industrial em estrutura pré-moldada, permitiu que as unidades fossem construídas com um terço do prazo que seria necessário para a execução de uma casa de mesma área em alvenaria, segundo a construtora.

A iniciativa rendeu a Roberto Ferreira e à Rede iVerde o segundo lugar do 19º Prêmio CBIC de Inovação e Sustentabilidade, da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), na categoria sistemas construtivos. A premiação destacou, além da velocidade de execução, a redução do custo com mão de obra e de desperdício de material, além da emissão de CO² na natureza, cerca de 80% menor em comparação ao sistema construtivo tradicional.

O modelo de negócio também foi premiado. A Tecverde venceu o Prêmio Nacional de Inovação da Confederação Nacional da Indústria (CNI) na categoria modelo de negócio, com a Rede iVerde, empresa criada no final de 2012 em parceria com a Roberto Ferreira. O sócio-diretor da Rede iVerde, José Márcio Fernandes, resume que, nesse modelo de negócio, eles cedem a tecnologia, auxiliam na instalação da fábrica para montagem dos painéis, treinam os operários da construtora tanto para fabricação dos painéis quanto na montagem das casas, e atuam como um braço de engenharia da construtora, que é a responsável pela obra.

Para o empreendimento sair do papel e obter o financiamento da Caixa Econômica Federal, ele foi submetido a testes que comprovassem sua conformidade às diretrizes do Sistema Nacional de Avaliação Técnica de Produtos Inovadores (Sinat), do Ministério das Cidades. O sistema, importado da Alemanha, precisou ser adaptado ao Brasil e passou por ensaios de desempenho contra fogo, desempenho térmico e acústico, entre outros. As empresas responsáveis pelo empreendimento afirmam também que todas as unidades atendem aos requisitos da Norma de Desempenho – NBR 15.575.

Fernandes ressalta que, embora seja uma novidade por aqui, a tecnologia já é usada em diversos países. “A construção em madeira é uma tendência. Vemos, por exemplo, projetos de prédios de 34 pavimentos na Suíça para serem construídos em madeira. E há prédios de cinco e seis pavimentos em wood frame em alguns países da Europa. Inclusive, temos uma pesquisa para construir, em 2014, um protótipo de cinco pavimentos em Curitiba em wood frame”, conta. Para o Residencial Haragano também foi construída uma casa como protótipo em Curitiba.

Sistema permite a montagem de até duas casas por dia. Tempo de execução - até 50% mais rápido - é o principal diferencial em relação à alvenaria. Os painéis do Residencial Haragano foram montados numa fábrica próxima ao canteiro de obras, numa espécie de linha de produção, que contou com 18 operários
Sistema permite a montagem de até duas casas por dia. Tempo de execução – até 50% mais rápido – é o principal diferencial em relação à alvenaria. Os painéis do Residencial Haragano foram montados numa fábrica próxima ao canteiro de obras, numa espécie de linha de produção, que contou com 18 operários

Como funciona
Em 2010, a Tecverde trouxe da Alemanha a tecnologia wood frame, por meio de um convênio com o Ministério da Economia de Baden Wurttemberg, e apoio da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), do Sistema Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e de outras empresas. Desde então, a empresa começou a utilizar a tecnologia para construção de casas de alto padrão em Curitiba. Até que enxergou no MCMV uma oportunidade de negócio, devido ao baixo custo do sistema. “Nossa proposta no Haragano era proporcionar uma moradia melhor ou igual à alvenaria para os moradores, só que com menor custo. É possível, por exemplo, lavar e pendurar coisas pesadas na parede, não é uma tecnologia frágil, é robusta”, afirma Fernandes.

Pesando 150 kg/m², as paredes são compostas da seguinte forma: a parede externa é formada por placa cimentícia, membrana hidrófuga, placa estrutural de OSB, montantes de pinos autoclavados de alta densidade (estrutura) e, no meio dos montantes, isolamento térmico e acústico (veja ilustração). No caso do painel interno, em vez da placa cimentícia, há gesso acartonado – e de ambos os lados existem placas de OSB. As paredes externas têm 14 cm de espessura e as internas 12 cm. Os painéis podem receber qualquer tipo de acabamento, assim como a alvenaria.

As paredes têm ainda resistência, na parte interna, para peças suspensas, de até 220 kg. “A placa de OSB dá uma resistência muito grande à parede, que passou por um impacto de 960 J. Uma carga de 40 kg era arremessada por um pêndulo de uma altura de mais ou menos 3,5 m. Eles erguiam o pêndulo e batiam na parede. E o resultado foi positivo”, diz Fernandes, da Rede iVerde.

A estrutura dos telhados também é feita com madeira autoclavada e telhas cerâmicas, não há laje. O telhado é feito ao lado da casa, enquanto ela está sendo montada. No caso dos sobrados, a laje usa o mesmo conceito da parede, mas com vigas mais reforçadas. Sobre as vigas de madeira há um painel de OSB mais espesso, de 18 mm, e sobre ele são colocados uma manta e piso laminado. No Haragano, todos os painéis das casas eram montados numa fábrica próxima ao canteiro e eles já saíam prontos, com partes elétrica, hidráulica e esquadrias instaladas. A fábrica funciona como uma linha de produção e contou, nesta obra, com 18 pessoas, incluindo mulheres. Na obra, durante a montagem, havia 40 operários.

A montagem das casas também é relativamente simples, e exige uma base em concreto sobre fundação simples – radier. Em seguida, são instalados montantes para aplicação das chapas com uso de parabolts (chumbadores). Entre os montantes e a fundação, foi aplicada membrana asfáltica impermeabilizante. Os montantes são fixados com pregos e, para finalizar a montagem, os painéis de fechamento se unem à estrutura por meio de parafusos de rosca. Fernandes garante que essa montagem demora, em média, duas horas.

Além da rapidez na execução, a questão ambiental também é destacada por Fernandes. “São madeiras de reflorestamentos e o uso delas faz com que nosso sistema construtivo use muito pouca energia para fabricar as casas. A madeira é usada quase que in natura e não passa por nenhum processo de transformação que demande energia”, explica. O uso de água nessa obra também foi reduzido, ficando restrito à execução das fundações.

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Viabilidade
Um ponto que pesou muito na escolha do sistema foi o custo – fator primordial para os imóveis do MCMV. Segundo o levantamento feito pelas empresas, o custo de uma casa térrea de 45 m², como a exibida nas plantas, é de aproximadamente R$ 28 mil (veja orçamento). Para esse mesmo empreendimento, as empresas chegaram a orçar a mesma unidade em alvenaria convencional, e o resultado seria por volta de R$ 30 mil ou mais.

De acordo com Fernandes, a redução de custos pode chegar a até 10%, mas a maior economia é com mão de obra e tempo de execução. A matéria-prima em si, em comparação com a alvenaria, pode ser mais cara, mas a alta é compensada pela redução de custo com operários. Isso porque o processo, por ser modular, demanda menos trabalhadores em várias etapas da obra. Outro fator que traz economia é a fundação, já que a estrutura das casas é mais leve.

Empreendimento está enquadrado na Faixa 1 do Minha Casa, Minha Vida e deverá ser entregue em outubro; Prefeitura de Pelotas (RS) já iniciou seleção dos moradores
Empreendimento está enquadrado na Faixa 1 do Minha Casa, Minha Vida e deverá ser entregue em outubro; Prefeitura de Pelotas (RS) já iniciou seleção dos moradores

ESTRUTURA DAS PAREDES
As paredes são produzidas numa espécie de linha de montagem, em fábrica montada próxima ao canteiro. Depois de prontas, elas são levadas à obra, onde são içadas com guindastes e montadas. Confira como é a estrutura dos painéis.

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“Comparando os dois sistemas, há um custo de cerca de 10% maior do wood frame em materiais. Mas a redução de mão de obra chega a 50% em relação à alvenaria. Esse é o grande ganho do sistema. E ainda diminui o tempo de obra em, no mínimo, um terço”, compara o engenheiro. Segundo estimativas das empresas, o comparativo indica que a mão de obra para executar todas as etapas da construção de uma casa de alvenaria sairia por cerca de R$ 12 mil, enquanto que na execução da residência em wood frame o custo seria de pouco mais de R$ 6 mil.

Ricardo Targa Ferreira, sócio-diretor da Roberto Ferreira, conta que esse empreendimento foi contratado, à época, pelo valor de R$ 53 mil por unidade. Além do custo de cada imóvel, ele cita as despesas indiretas, com infraestrutura, salão de festa, quadra esportiva, cercamento do condomínio, churrasqueiras, redes internas de água e esgoto, entre outros itens – o terreno, nesse caso, foi doado pelo Estado do Rio Grande do Sul. Apesar disso, ele afirma que a margem de lucro de aproximadamente 8% foi considerada boa, e talvez superior à margem que seria obtida com o sistema convencional.

“Não achávamos que teríamos sucesso com a alvenaria estrutural, devido à dificuldade em encontrar profissionais e ao alto custo deles. Por isso, resolvemos fechar a parceria para usar wood frame. Na fase de planejamento, já víamos que o custo do metro quadrado de uma alvenaria revestida já estava ultrapassando em R$ 100 o metro quadrado do wood frame. Além disso, havia o receio de não entregarmos no prazo”, conta Ferreira. Ele revela que fará outros empreendimentos com wood frame e já tem projeto de construir mais 1.500 casas também em Pelotas (RS).

ORÇAMENTO SIMPLIFICADO
Veja, a seguir, os custos para construção de uma casa térrea em wood frame. O orçamento foi enviado pela Rede iVerde, com custos cotados em Curitiba, em julho de 2013, sem Benefícios e Despesas Indiretas (BDI) e administração, para escala maior que 100 unidades habitacionais.

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