(O Globo) – 03/04/20
Quem anda pelas ruas das grandes cidades brasileiras percebe a quebra na rotina provocada pela pandemia do novo coronavírus. Por causa das políticas de isolamento dos que podem ficar em casa, impostas aos que não podem trabalhar com segurança, todos os dias se parecem com domingos, com comércio fechado e pouca movimentação de pessoas. Usando a tecnologia de localização de seus produtos, o Google divulgou um relatório nesta sexta-feira, mostrando em números a magnitude deste fenômeno em 131 países e regiões, inclusive no Brasil.
Na média, varejo e espaços de entretenimento — que inclui estabelecimentos como bares e restaurantes, shopping centers, cinemas e museus — no país tiveram queda de 71% no movimento, enquanto que em parques e espaços públicos a redução foi de 70%. Mercados e farmácias, que continuam abertos para abastecer a população, registraram queda de 35%. Nos serviços de transporte — pontos de ônibus e estações de trens e metrô — a redução foi de 62% e nos locais de trabalho, de 34%. Por outro lado, nos locais de residência houve aumento de 17%.
No estado de São Paulo, que registra o maior número de casos da doença no Brasil, o movimento no varejo e em espaços de entretenimento teve queda de 72%; mercados e farmácias, de 36%; parques e espaços públicos, de 71%; serviços de transporte, 62%; locais de trabalho, 37%; e nas residências, aumento de 17%.
No Rio, segundo nos estados com mais casos da Covid-19, a queda no movimento no varejo e espaços de entretenimento foi de 72%; em mercados e farmácias, de 32%; parques e espaços públicos, 74%; transporte público, 61%; locais de trabalho, 37%; e nas casas, aumento de 17%.
Santa Catarina é o estado que registrou maiores índices de redução na circulação de pessoas, segundo o relatório do Google. O varejo e os espaços de entretenimento tiveram queda de 80% no movimento; mercados e farmácias, de 49%; parques e espaços públicos, de 84%; sistemas de transporte, de 76%; e locais de trabalho, de 40%.
Redução drástica na Itália
Os números revelam que parte considerável da população está adotando o isolamento como forma de contenção da epidemia, apesar de as idas ao trabalho ainda serem uma necessidade para muitos. Mas as medidas protetivas são importantes para que a doença não avance como em outros países, como na Itália, exigindo restrições ainda mais severas.
Por lá, a queda no movimento no varejo e em espaços de entretenimento é de 94%; em mercados e farmácias, de 85%; nos parques, de 90%; nos transportes públicos, de 87%; e nos locais de trabalho, de 63%.
Os números são referentes ao dia 29 de março, em comparação com o período de cinco semanas, entre os dias 3 de janeiro e 6 de fevereiro. Segundo o Google, os relatórios deverão ser atualizados diariamente, com a inclusão, quando possível, de novos países. Os atrasos, de dois ou três dias, acontecem para que os dados sejam agregados.
“Nós, do Google Maps, já usamos dados agregados e anônimos que indicam a movimentação em determinados lugares. Isso ajuda a identificar, por exemplo, vias com trânsito intenso ou horários de pico em restaurantes”, explicou o Google, em comunicado assinado por Jen Fitzpatrick, vice-presidente de GEO e Karen DeSalvo, diretora de saúde do Google Health. “Agora, autoridades sanitárias nos disseram que esse mesmo tipo de dado agregado e anônimo poderia ser útil para tomar decisões fundamentais no combate à COVID-19”.
Dados anonimizados
A companhia enfatiza que as informações são anonimizadas, o que impede a identificação dos usuários, e pertencentes apenas a pessoas que optaram ativar o histórico de localização. O projeto é uma resposta a autoridades internacionais de saúde, que pediram apoio da companhia para o combate à pandemia.
“Esperamos que os relatórios sejam uma nova ferramenta para fundamentar decisões de enfrentamento à pandemia de coronavírus. Um exemplo de possível utilização é ajudar as autoridades a entender mudanças em trajetos essenciais, que poderão ser transformadas em recomendações sobre horários de funcionamento ou de serviços de entrega”, afirmou a companhia. “Em última análise, compreender se as pessoas estão se movimentando e também quais são os destinos pode auxiliar as autoridades a dar orientações que protejam a saúde pública e, ao mesmo tempo, atendam às necessidades básicas dos cidadãos”.