(Estado de S.Paulo) – 27/08/20
O empresário e fundador da Tecnisa, Meyer Nigri, apelou à engenharia societária para defender seus negócios. Com 24% da empresa, Nigri se associou a um grupo de acionistas e juntos passaram a deter a participação de 33%. O objetivo foi ter um muro de contenção contra a oferta hostil de aquisição desenhada pela Gafisa, isto é, contra a vontade do fundador. Pelo acordo de acionistas fechado nesta semana, todos se comprometem a não vender os papéis da Tecnisa e a votar de forma unificada nas assembleias que irão deliberar sobre uma possível combinação de negócios entre as duas incorporadoras, conforme proposta formulada pela Gafisa. Além disso, a administração da Tecnisa publicou um longo comunicado recomendando a todos os seus acionistas a não aprovação dos itens propostas pela Gafisa.
Controlada pelo investidor Nelson Tanure, a Gafisa comprou 3,1% das ações da Tecnisa e pediu a convocação de assembleia para que a fusão seja apreciada pelos acionistas. Também solicitou a alteração do estatuto da Tecnisa para ampliar o limite de compra de participação na empresa de 20% para 30%, o que abriria caminho para a sua entrada como um sócio relevante. A lista de pleitos incluiu ainda a destituição e eleição de um novo conselho e a capitalização de R$ 500 milhões, o que poderia diluir o poder do fundador.
A iniciativa colocou em xeque o comando de Meyer Nigri. Como as ações da sua empresa estão espalhadas nas mãos da milhares de acionistas, ficou difícil organizar um bloco para a reação conjunta. Mas Nigri agiu rápido e contou com a parceria de acionistas simpáticos à sua administração e refratários a uma aquisição hostil da empresa. São eles os fundos Vokin Evolution, Ölberg, HSSP, FDI, S4, Singular e até a incorporadora Cyrela, de Elie Horn, com quem Nigri tem amizade de longa data.
Durante Live há alguns dias, Elie Horn desconversou sobre o negócio e disse que sequer sabia da tentativa de compra da Tecnisa pela Gafisa. “Se for bom para eles, que deus abençoe essa fusão, amém”, declarou na ocasião.
Após a Tecnisa bater a porta na cara da Gafisa, a combinação dos negócios ficou mais difícil, frustrando os planos de Tanure, ao menos por ora. Um caminho possível seria uma oferta pública de aquisição (OPA). Procurada, a Tecnisa não comentou. Já a Gafisa disse que “as negociações continuam e a transação é muito positiva para as duas empresas”.