(Estadão) – 05/02/22
Primeira unidade do V3rso será erguida em São Paulo, com uso de tecnologia e diárias de R$ 800, metade do que cobra a ‘marca-mãe’
Um hotel de luxo, mas que não terá nem check-in nem check-out presencial e onde tudo – absolutamente tudo – será feito por uma plataforma digital, desde o ajuste na temperatura do ar-condicionado até um pedido de comida no iFood.
Segundo Gustavo Filgueiras, CEO do grupo Emiliano, trata-se de um conceito repaginado de luxo, para o consumidor antenado em tudo o que há de novo, com diárias girando em torno de R$ 800 – cerca da metade do que é cobrado pela ‘marca-mãe’.
Os projetos dos hotéis V3rso serão feitos em parceria com incorporadoras – as três primeiras operações já estão fechadas, mas o grupo vê espaço para até 50 empreendimentos em quatro anos. Há até perspectiva de expansão internacional. A primeira unidade anunciada será feita em parceria com a incorporadora You, Inc., especializada no segmento premium.
O investimento pesado ficará por conta da incorporadora. A ideia é de que o Emiliano agregue a marca para valorizar a ponta residencial e fique responsável pela operação de hospedagem. O desenvolvimento da plataforma digital deve exigir cerca de R$ 10 milhões.
O empreendimento em conjunto com a You, em São Paulo, terá valor geral de vendas (VGV) de R$ 250 milhões, com o metro quadrado calculado em R$ 32 mil. As unidades têm 28 metros quadrados. Em Porto Alegre, a parceria foi fechada com a Melnick, e o metro quadrado deve ficar entre R$ 25 mil e R$ 28 mil.
O V3rso será um projeto híbrido. Num prédio de 250 apartamentos, em torno de 40 funcionarão disponíveis como hospedagem e outros 60 poderão entrar no pool hoteleiro. O restante ficará para unidades vendidas para quem pretende morar no local – a decoração é a mesma disponível para os demais hóspedes.
Outra razão para a diária mais baixa do novo empreendimento está relacionado à questão da mão de obra. Nos empreendimentos V3rso serão 38 funcionários para 250 apartamentos, enquanto o Emiliano tem 185 trabalhadores para atender a 56 quartos.
A tarifa mais baixa, mas com a marca Emiliano, pode ajudar a expandir a rede para cidades que não comportam um hotel de alto luxo da marca. Já há projetos fechados para Porto Alegre e Goiânia, além de negociações em Londrina (PR), Curitiba, Belo Horizonte e Brasília, além de conversas para duas outras unidades em São Paulo.
Efeito pandemia
O grupo entende a nova operação como uma tendência para a hotelaria: menos custosa e mais tecnológica, mas sem abrir mão do luxo. A combinação com o residencial é oportuna, num momento em que os hotéis estão fragilizados e no qual o mercado imobiliário busca novos formatos.
Dados fechados do ano passado mostram o estrago da pandemia no setor. Segundo o Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (FOHB), a ocupação ficou em torno de 40% em 2021, na média do Brasil, ante 60% em 2019, antes da crise sanitária. A diária média ficou 7% abaixo da verificada no período pré-pandemia, a R$ 216,25. Os números estão negativos em todas as categorias.
Filho do fundador da rede de luxo, criada em 2001, em São Paulo, Filgueiras compara a nova operação à relação entre Uber e táxi. ‘Qual será o futuro: é um híbrido de um hotel tradicional com uma plataforma. E tem a força de agregar o residencial’, afirma ele. ‘O mercado de incorporação precisa de novidade. A gente tem uma marca muito preservada.’
Apesar do otimismo do empresário, um consultor do setor hoteleiro, que pediu para não ser identificado, relativiza o potencial da ideia. ‘Em São Paulo deve vender bem, alguns devem ser atraídos pela marca Emiliano. Agora, replicar isso fora de São Paulo é muito difícil. Não tem mercado para isso’, afirma a fonte.