Gafisa cancela projetos com baixas vendas e tem prejuízo


(Daniela D’Ambrosio) – 11/03/2009

A crise começa a repercutir no setor de construção de maneira mais profunda. Depois de cancelar e adiar boa parte dos novos projetos – decisão tomada por todas as incorporadoras a partir de setembro do ano passado -, as empresas partem para o cancelamento de projetos que já foram lançados mas tiveram vendas abaixo do esperado. Preservar o caixa é a palavra de ordem. Neste cenário, a Gafisa, uma das maiores do setor, decidiu cancelar mais de seis empreendimentos, num total de R$ 241 milhões em VGV (valor geral de vendas).

A decisão de cancelar projetos já vendidos e devolver o dinheiro aos compradores está prevista pela Lei 4591. O processo pode ocorrer até seis meses após o lançamento. No ano passado, a Inpar já havia devolvido lançamentos. “Tomamos essa decisão para preservar o caixa e melhorar os nossos retornos”, disse Wilson Amaral, presidente da Gafisa, em teleconferência com analistas. A companhia tinha, no fim do ano, R$ 600 milhões em caixa.

Segundo Amaral, projetos no quinto mês após o lançamento que não atingiram entre 40% e 50% das vendas estão sujeitos ao cancelamento. A companhia ainda tem pelo menos outros seis empreendimentos nessas condições. “Estamos acompanhando de perto cada projeto e fazendo ações específicas para aumentar as vendas”, diz Antonio Carlos Ferreira, diretor de incorporação. “Alguns deles tiveram bons resultados entre janeiro e fevereiro.” Dois dos que estão com performance abaixo da esperada ficam em Salvador e a companhia decidirá pela continuidade ou não até o fim do mês.

O cancelamento dos projetos e a reestruturação de custos promovida pela Gafisa – ambas por conta da crise – além da implantação do sistema SAP impactaram negativamente o resultado. Só por conta dos cancelamentos, por exemplo, a empresa teve de contabilizar despesas de R$ 15,7 milhões entre jurídicas, de marketing e vendas. Sem falar nas novas regras contábeis, que estão reduzindo os resultados de todas as companhias no quarto trimestre.

O prejuízo líquido no quarto trimestre foi de R$ 12,6 milhões. No ano, o lucro líquido ficou em R$ 110 milhões e margem líquida de 6,3%. Excluindo as despesas extraordinárias e o impacto das novas regras contábeis (que representaram R$ 31,7 milhões em 2008 e R$ 14,3 milhões no quarto trimestre), a empresa teria tido lucro líquido de R$ 56,9 milhões no trimestre – ante R$ 49,5 milhões no mesmo período de 2007 – e de R$ 171 milhões no ano.

Os lançamentos diminuíram 26% no quarto trimestre, em comparação a 2007, e as vendas, 8%. “A relação vendas/lançamento foi de 79% no trimestre, contra 61% no ano, o que mostra que a decisão de reduzir lançamentos foi efetiva”, disse Amaral. A bandeira Gafisa teve o pior desempenho. As marcas Alphaville e Tenda, cuja aquisição de 60% foi concluída no fim do ano, foram responsáveis pelo crescimento operacional da companhia. A receita líquida, pelo método antigo, cresceu 45%, atingindo R$ 1,74 bilhão no ano e R$ 264 milhões no trimestre (alta de 64%).

Com a aquisição da Tenda, a empresa tem participado ativamente das conversas com o governo nos últimos 60 dias para elaboração do plano de habitação. “O plano pode mudar radicalmente a atuação da Tenda”, diz Amaral. “Temos excelentes condições para captar essas mudanças que estão para ser anunciadas”, completa.

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