(Revista Téchne) – 05/09
Desenvolvimento conjunto de soluções atendeu a exigências estruturais sem prejuízo do projeto de arquitetura
- Para preservar a vista do mar, os apartamentos foram posicionados lado a lado e inclinados em relação ao eixo da estrutura, tornando as torres muito esbeltas. Essa configuração leva a comportamentos estruturais não convencionais
RESUMO
Obra: Estrela do Atlântico
Execução: Ecocil – Empresa de Construções Civis Ltda.
Localização: Natal
Construção: junho de 2006 a setembro de 2009
Investimento total: R$ 50 milhões
Área construída: 53.959,43 m²
Terreno: 18.682 m²
Volume de concreto: 18.800 m³
Quantidade de aço utilizada: 2.050 t
Vagas de estacionamento: 538
Pé-direito: laje a laje: 2,97 m, piso a forro: 2,47 m, térreo: 5,94 m
Resistência do concreto: lajes – 45 MPa até o 30º pavimento e 35 MPa nos andares superiores, lajes e vigas
Torres: duas, com 468 apartamentos tipo flat, sendo seis por andar
Pavimentos: 38 pavimentos-tipo e mais um dúplex, um térreo, um mezanino, uma área de resgate, uma área técnica
Área útil de laje: 480 m²/laje
Elevadores: cinco, com velocidade de 3,5 m/s
Plano e dotado de um solo homogêneo – com baixo teor de argila e nível baixo de lençol freático -, o terreno que abriga o empreendimento Estrela do Atlântico localiza-se no bairro de Ponta Negra, uma área nobre de Natal, capital do Rio Grande do Norte. E foi justamente essa a característica que mais afetou os arranjos de estrutura e arquitetura das duas torres de 44 pavimentos cada.
Como o terreno fica à beira-mar, o projeto de arquitetura tinha como premissa básica orientar as unidades de modo a preservar a vista para o mar da enseada de Ponta Negra. Por isso, os arquitetos do escritório Abreu & Barros Arquitetura posicionaram os apartamentos lado a lado, tornando os prédios muito compridos e estreitos. Tais dimensões, associadas à elevada altura – 132,12 m desde o topo da fundação até o topo do último pavimento – resultaram em torres bastante esbeltas.
Inicialmente, os arquitetos conceberam um desenho em que as caixas de escadas e os poços de elevadores ficavam próximos ao centro dos edifícios. Por ter sido envolvido desde o início da concepção arquitetônica, o engenheiro estrutural George Maranhão, da empresa de engenharia e consultoria estrutural que leva seu nome, pôde, ainda no anteprojeto, alterar o posicionamento desses elementos. Tal solução, explica o engenheiro, “possibilitou a associação dos pórticos de contraventamento aos pilares-parede, levando à criação de elementos de elevada rigidez”.
Esse recurso amenizou também o fato de os apartamentos estarem inclinados em 58º em relação ao eixo X global do prédio, o que impossibilitava a definição geométrica do contraventamento na direção do eixo Y global. A solução foi adequada para os autores do projeto arquitetônico, que consideraram os ajustes necessários. “Com o alinhamento, os blocos de circulação verticais se transformaram em pórticos estruturais, o que conferiu mais estabilidade à estrutura”, observa o arquiteto Luciano Barros, sócio do escritório responsável pelo projeto. Ele reconhece que a principal demanda arquitetônica que afetou a estrutura foi “sem dúvida alguma a relação entre a altura e a largura do edifício, com 130 m de altura e largura que, em alguns trechos, chega a 10 m”, analisa.
- Antes centralizados em relação ao comprimento do edifício, os poços de elevadores e as escadas foram alinhados aos pórticos de contraventamento – nas extremidades das torres – para aumentar a rigidez à torção e melhorar a estabilidade global da estrutura
Solução ao vento
A falta de referências para tomar como base no cálculo estrutural de um edifício com tantas particularidades levou a equipe do engenheiro George Maranhão a sugerir a realização de ensaios de comportamento em túnel de vento. “Estruturas muito esbeltas apresentam elevados deslocamentos horizontais, acarretando em amplificação dos esforços como efeitos de segunda ordem”, explica Maranhão, em referência à ocorrência de vibrações excessivas, que resultariam em desconforto aos moradores, principalmente em pavimentos superiores. “A esbeltez, o quociente entre a altura e a menor dimensão em planta da estrutura nos dá uma idéia da sensibilidade do prédio às ações horizontais”, conclui.
O Laboratório de Aerodinâmica de Construções, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, realizou os ensaios, que se dividiram em duas etapas conforme a sequência construtiva do empreendimento. Ou seja, considerando a existência de apenas uma e das duas torres. Para tanto, dois modelos reduzidos, em escala 1/300, foram confeccionados, assim como foram também simulados todos os detalhes significativos da vizinhança.
Para a realização das análises, um dos modelos foi instrumentado com 209 tomadas de pressão, com a distribuição pensada de forma a permitir um levantamento representativo das pressões em toda a volta dos modelos. No total, realizando medições a cada 15º, foram feitas 15.048 medições para cada uma das configurações citadas acima. Os relatórios da ação estática do vento permitiram o desenvolvimento das análises teóricas dos efeitos mais desfavoráveis para a estrutura. Além da análise dinâmica da estrutura, considerou-se a não linearidade geométrica e física na análise estática.
“Os resultados indicaram que a direção de maior esforço do vento foi a 15º, valor não contemplado pela NBR 6123 – Forças Devidas ao Vento em Edificações. Além disso, foram encontrados elevados esforços torçores”, explica Maranhão. Ele afirma, ainda, que foram essas análises que estimularam a criação dos núcleos de escada junto às extremidades da estrutura.
- Com baixo teor de argila, o solo do terreno apresentava boas condições para a execução das fundações. As elevadas cargas das torres foram distribuídas por meio de estacas hélice contínuas com diâmetro de 0,80 m e 15 m de comprimento
- Para minimizar as interferências na arquitetura, adotaram-se lajes nervuradas moldadas “in loco”, cujo contorno obedecesse às divisórias dos apartamentos. Nos casos em que vigas vencem grandes vãos, têm altura que permite serem embutidas no forro
- As particularidades da estrutura, como a elevada esbeltez, levaram à realização de ensaio em túnel de vento que revelaram elevados esforços torçores em situações não contempladas em norma
O uso de concreto convencional dispensou inovações executivas. A concretagem foi feita com uso de fôrmas de madeira e, no caso das lajes, foram utilizadas fôrmas plásticas, tipo cubeta, apoiadas sobre assoalhos de madeira e escoramento metálico. A única dificuldade, explica o engenheiro de obras da Ecocil, Antônio José, “deveu-se à limitação dos equipamentos das concreteiras para bombear o concreto a grandes alturas”.
Apenas alguns blocos de coroamento das fundações, de grande volume, exigiram que o concreto fosse resfriado antes do lançamento como forma de “reduzir tensões terminais, evitar fissuras e promover uma melhor evolução da resistência à compressão”, conta Antônio José. No caso dos poços de elevadores, a profundidade exigiu a construção de cortinas de contenção para viabilizar a construção.
Devido às elevadas cargas, as fundações do Estrela do Atlântico foram executadas com estacas hélice contínua de 80 cm de diâmetro e 15 m de comprimento. “Foi a alternativa que melhor atendeu às exigências técnico-econômicas. Além disso, levou-se em consideração a velocidade de execução e a não interferência nas edificações vizinhas, no tocante a vibrações e ruídos”, conta o engenheiro da Ecocil.
O fechamento foi feito com blocos de concreto fabricados “in loco”. “Uma técnica construtiva bastante difundida na região e com excelente relação custo-benefício”, afirma o arquiteto Luciano Barros. A amarração da alvenaria foi feita com auxílio de telas.
