(Gazeta do Povo) – 19/10/10
Explosão do mercado imobiliário em Curitiba deve fazer construtoras e incorporadoras lançarem uma quantidade recorde de imóveis residenciais. Valor de venda dos empreendimentos é cinco vezes maior do que há quatro anos
Em meio à explosão do mercado imobiliário, construtoras e incorporadoras preparam um volume recorde de lançamentos para os próximos dois anos em Curitiba. A projeção do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon) é de que neste ano sejam aprovados alvarás para a construção de mais 3 milhões de metros quadrados residenciais com valor de venda de cerca de R$ 8,3 bilhões – 41% acima do registrado em 2009.
Na prática, isso significa que o setor vai lançar em imóveis na capital um volume financeiro superior ao PIB de uma cidade como Londrina (R$ 7,9 bilhões), a segunda maior do estado. Serão cerca de 30 mil unidades residenciais, volume 17% superior ao do ano passado.
O otimismo do setor se ampara na combinação da oferta do crédito e no aumento do emprego, da renda e da confiança do comprador na manutenção das boas condições da economia para os próximos anos.
Mesmo com a disparada dos preços – o metro quadrado aumentou entre 60% e 100% nos últimos quatro anos –, as empresas acreditam que ainda há uma demanda ávida por novidades. Pelos cálculos de Marcos Kahtalian, da Brain Consultoria, Curitiba tem mercado para absorver entre R$ 2,5 bilhões e R$ 3 bilhões em lançamentos de imóveis por ano. “Somente a partir de meados de 2011, quando também deve ser entregues um número significativo de imóveis, é que saberemos se o mercado vai continuar crescendo nessas proporções”, afirma.


Retomada
Para as empresas, 2010 consolida a retomada do setor imobiliário na cidade, iniciada há dois anos. “Desde então, o mercado vem crescendo rapidamente. Neste ano, o volume de lançamentos deve ser o dobro do de 2007”, diz Luiz Augusto Brenner Rose, diretor de atendimento da empresa de intermediação imobiliária Lopes.
Passadas a Copa do Mundo e as eleições para o governo estadual, as empresas prometem descarregar no mercado um volume grande de empreendimentos na reta final de 2010. “Tradicionalmente o segundo semestre é muito mais forte do que o primeiro, por concentrar o pagamento do 13º salário e das bonificações pagas pelas empresas”, diz Gustavo Selig, presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi).
O número de lançamentos será maior também porque o mercado “deu uma parada” entre março e julho, por conta do descolamento dos preços dos terrenos e dos imóveis usados, segundo o presidente do Sinduscon, Hamilton Pinheiro Franck. “Os terrenos subiram muito e alguns negócios deixaram de ser realizados. Por outro lado, o cliente que queria comprar um imóvel achava que seu usado valia mais do que na realidade. O mercado passou por uma desordenação”, diz. O alto volume de pedidos também tornou mais lenta a aprovação de alvarás pela prefeitura, segundo Gerson Carlos da Silva, diretor-geral da Galvão Vendas. Neste fim de ano, a empresa lançará 20 empreendimentos – o dobro do restante do ano –, estimados em R$ 800 milhões.
É bolha ou não é?
O aquecimento do mercado, o boom do crédito e a disparada dos preços têm levado muita gente a se perguntar se não há uma bolha imobiliária em formação no Brasil, a exemplo do que se viu nos Estados Unidos, onde a especulação deu origem a uma crise econômica que varreu economias desenvolvidas a partir de setembro de 2008. As empresas do setor rechaçam o risco, ao se amparar na pouca participação do crédito imobiliário sobre o PIB nacional, nas diferenças entre os mercados brasileiro e norte-americano, na regulamentação e no conservadorismo das instituições bancárias na concessão dos empréstimos no país. Além disso, o Brasil ainda tem um mercado de hipotecas incipiente.
O fato, porém, é que o setor ainda carece de instrumentos independentes de acompanhamento de preços, uma ferramenta que pode ajudar a detectar sinais de bolhas em formação. A maior parte dos levantamentos de preços é feita pelas próprias entidades e consultorias do setor da construção e se baseia no preço oferecido pelas empresas, que não é necessariamente o mesmo valor transacionado ao fim da venda.
O superaquecimento tem preocupado o governo federal, que pretende criar mecanismos para evitar a formação de uma bolha imobiliária. O primeiro deles deve ser a criação, a partir de 2011, de um Índice Nacional dos Preços dos Imóveis, realizado pelo IBGE. A ideia é criar um índice de inflação do setor, mas ainda não há informações sobre sua abrangência. Não se sabe, por exemplo, se terá dados regionalizados, já que os mercados imobiliários variam muito de tamanho e de perfil conforme a cidade. A Fundação Instituto de Pesquisas Aplicadas (Fipe) lançou um projeto piloto de um índice imobiliário em setembro do ano passado. A pesquisa, porém, é restrita a São Paulo e a imóveis usados.
Um comentário sobre “Um jogo de R$ 8 Bilhões”