(Gazeta do Povo) – 19/10/10
Apartamentos compactos tiveram o maior aumento e empresas veem espaço para preços ainda mais altos, dependendo do tipo de imóvel
Os preços dos apartamentos em Curitiba dispararam nos últimos quatro anos. Dependendo do tipo do apartamento, as cotações chegaram a dobrar no período e, no último ano, a alta chega a 20%. Levantamento da área de inteligência de mercado da empresa de intermediação imobiliária Lopes – que tem presença em 12 estados e no Distrito Federal – mostra que bairros como Centro, Água Verde, Vila Izabel, Cabral e Batel têm, em média, os apartamentos mais caros da capital. Nesses locais, o preço do metro quadrado por área útil fica, em média, entre R$ 4 mil e R$ 4,7 mil. Mas é possível encontrar imóveis cujo metro quadrado fica entre R$ 5,5 mil e R$ 6 mil no Batel, valores equivalentes a alguns bairros de classe média-alta de São Paulo.
A pesquisa da Lopes, referente a setembro, foi realizada com base em uma amostra de 3.753 unidades em oferta na cidade. O levantamento cobriu os bairros que concentram os principais lançamentos imobiliários na capital.
Os aumentos dos preços dos terrenos e dos custos de mão de obra das construtoras de um lado, e a demanda aquecida do outro, têm sido o combustível perfeito para a disparada dos preços. O movimento ocorre em todo o Brasil, mas aqui a diferença fica mais gritante porque Curitiba sempre foi uma cidade considerada barata para morar. “A questão não é que os preços estão muito altos, e sim que Curitiba passou muito tempo com um mercado pouco desenvolvido, com pouca oferta de imóveis e preços baixos. Essa correção teria de ocorrer”, afirma Luiz Augusto Brenner Rose, diretor de atendimento da Lopes em Curitiba.
Ninguém se arrisca a cravar até onde vai essa valorização, mas é consenso entre incorporadoras que ainda há espaço para os preços subirem. O diretor da Brookfield para a Região Sul, Luiz Angelo Zanforlin, acredita que nos imóveis no Batel, onde já há poucos terrenos à venda, o metro quadrado pode chegar a R$ 8 mil em dois anos, preços hoje encontrados em bairros como Vila Mariana, em São Paulo, e na Lagoa, no Rio. Para o presidente do Sinduscon, Hamilton Pinheiro Franck, a previsão parece exagerada. “Curitiba não é igual a São Paulo, inclusive na renda da população, que é menor”, argumenta. Para ele, 2011 deve ser mais um ano de forte demanda, mas não deve haver uma valorização tão expressiva dos preços. Marcos Kahtalian, da Brain Consultoria, acredita que alcançar os R$ 8 mil não é algo impossível, mas será um valor restrito a empreendimentos específicos. “Vai depender da localização, do produto a ser vendido. Não dá para generalizar”, diz.
Compactos
A maior parte dos lançamentos está concentrada em apartamentos de dois e três dormitórios, que juntos representam 82% do mercado, mas a participação de apartamentos de um dormitório vem crescendo rapidamente: passou de 7%, em 2009, para 17% em julho de 2010. Também são os apartamentos de um dormitório que registraram a maior valorização em quatro anos – os preços dobraram no período.
Os apartamentos de quatro quartos, que chegaram a representar 16% dos lançamentos em 2005, hoje têm uma presença tímida, de 1% do mercado. Dois motivos explicam a redução, segundo Brenner Rose, da Lopes. Há cinco anos, com o encolhimento do mercado e a pouca oferta de crédito, as empresas passaram a se dedicar a um público de mais alta renda, que não necessitava de financiamento para comprar imóvel.
Agora, com a fartura dos recursos para financiamento, a escassez de terrenos disponíveis, a ascensão da classe C e a tendência de famílias casa vez menores, os apartamentos mais compactos estão ganhando espaço. Os imóveis com dois dormitórios, que tinham uma participação de 10% em 2005, hoje representam 40% no mercado, com pico de 52% em 2009. O perfil do comprador também está mudando, com o crescimento no número de jovens casais, executivos, estudantes e divorciados.
Para escapar do congestionamento
Curitiba também começa a repetir um fenômeno comum em grandes capitais, como São Paulo e Rio. Com o aumento dos preços dos imóveis e os congestionamentos no trânsito para ir e voltar do trabalho, algumas famílias estão preferindo morar em apartamentos menores, mas com melhor localização.
O professor de Educação Física e dono de academia Mario Antonio Macarini, 32 anos, e a esposa, a médica Leisa Marostica, se mudaram recentemete para um apartamento novo no Ecoville. Comprado há dois anos e meio na planta, por R$ 300 mil, o imóvel, de 70 metros quadrados, tem três quartos, cozinha integrada e varanda com churrasqueira. O condomínio inclui comodidades como quadra de tênis, bosque e academia, além de salões de festa, brinquedoteca e espaço zen. “A minha ideia era morar perto do trabalho e hoje percorro apenas um quilômetro da minha casa até a minha academia”, diz Macarini. Ele e a esposa, que pretendem ter filhos, já pensam na compra de um imóvel maior e alugar o atual dentro de dois anos. “Mas os preços estão caros. O boom do setor está inflacionando os valores. Vamos esperar um pouco”, acrescenta.