(Redação Arcoweb)23/03/2012
Até 2020, 10% da energia distribuída no país será de fonte eólica, o que poderá reduzir custos dos insumos para a construção civil, com forte dependência de energia em seu processo produtivo.
No mês de abril de 2008, foi inaugurado no Bahrein o primeiro edifício comercial do mundo equipado com turbinas de vento para gerar eletricidade, que proverá de 11% a 15 % da energia elétrica que consome.
Aos poucos, a energia eólica conquista espaço na construção civil com objetivo de reduzir os custos no consumo de energia dos edifícios comerciais e residenciais. Há exemplos – todos bem sucedidos – em várias partes do mundo, como em Bahrein, na Arábia Saudita, em Londres, em Porto Alegre ou na Praia Grande no Litoral Paulista. No Brasil, a empresa que tem atuado fortemente na instalação de equipamentos de micro geração de energia para o mercado residencial e comercial é a Energia Pura, responsável pela implantação do sistema de geração eólica no edifício Eolis, em Porto Alegre; na Câmara Municipal de São José, em Santa Catarina; no condomínio de 58 residências na Praia Grande, São Paulo; e na Mormaii, empresa localizada na cidade de Garopava, em Santa Catarina, a primeira fábrica brasileira a utilizar energia eólica.
Caio Martins, diretor comercial da Energia Pura, diz que a procura maior tem sido por empreendimentos comerciais e que a geração é sempre complementar e geralmente atende ao consumo das áreas comuns dos edifícios. Segundo ele a implantação não é complicada. Precisa de uma torre de aço galvanizado cuja altura depende da geografia do terreno, fundação, gerador complementar e cabeamento. Ronald Thomé, proprietário da Energia Pura, explica que o custo para instalar um equipamento de geração eólica num edifício de dez andares fica entre R$ 35 mil e R$ 40 mil. “Temos projetos para área rural e litorânea. No litoral fica um pouco mais caro porque as torres de sustentação recebem tratamento de galvanização a fogo, para evitar a corrosão provocada pela maresia”, explica.
Com esse investimento, afirma, é possível gerar 300 kWh/mês, podendo chegar até a 900 kWh/mês, suficiente para abastecer com folga o consumo das áreas comuns, toda área externa do edifício, da escadaria de incêndio e até elevador, se for pouco utilizado. Ele diz que este rendimento precisa levar em conta o tipo de uso em cada projeto e a implantação da iluminação com lâmpadas e equipamentos que consomem pouca energia. Segundo Martins, “estes dados são genéricos, apenas para dar uma idéia das vantagens de se optar pela energia eólica”, afirma.
Edifício Eólis, em Porto Alegre, é o primeiro no Brasil a funcionar com energia eólica.
gerador instalado no edifício Eólis localizado na Avenida Carlos Gomes, considerada a “Avenida Paulista” de Porto Alegre pela grande concentração corporativa, tem capacidade para gerar 2600 watts, ou 2,6 kWh/mês. Segundo o engenheiro civil Christian Voelcker, vice-presidente e diretor de operações da Auxiliadora Predial, criadora e administradora do projeto, o investimento, em 2006, foi em torno de R$ 40 mil com previsão de amortização em oito anos. “O projeto do Eolis é de 2003, início da construção. Naquela época ninguém falava em sustentabilidade. Hoje estamos estudando a implantação de outra torre, podendo até triplicar a capacidade geradora”, conta.
O engenheiro explica que o sistema implantado no Eolis não depende de bateria. A energia gerada entra direto na rede distribuidora do edifício. O maior consumo de energia em todo o país se dá das 18h às 21h, quando os ventos na região de Porto Alegre são mais fortes, garantindo o fornecimento de energia barata ao edifício. “Nesse horário, podemos dizer que a energia pública é que é complementar ao nosso sistema”, afirma.
PIONEIRISMO
“A geração de energia eólica no país cresce em progressão geométrica”, afirma Telmo Magadan, presidente da Ventos do Sul e vice-presidente da Federação das Associações Comerciais e de Serviços do Rio Grande do Sul (Federasul). Segundo ele, o Brasil chegou tarde, mas está recuperando o tempo perdido. “O Proinfra – programa do governo federal para a infraestrutura dos municípios – começou em 2004. Tivemos leilões de energia em 2009 e 2010 e devemos ter outros leilões até 2013 ou 2014. Já foram contratados 5.200 MW de energia de matriz eólica para o sistema. Acreditamos que até 2020, em torno de 10% da energia distribuída será de fonte eólica,” afirma.
Magadan ressalta que o Parque Eólico de Ozório, no Rio Grande do Sul, é pioneiro no país. “Colocamos 150 MW no sistema. Somos o maior parque eólico do Brasil e da América Latina”, diz ao defender maiores investimentos para o Rio Grande do
Sul. “O Nordeste recebe mais investimentos, gerando um grande contraste. O maior consumo é no Sul e Sudeste, mas os investimentos ficam concentrados no Nordeste e não se dá incentivos para instalação de eólicas no Sul e Sudeste”, reclama. Ele acredita que, em breve, a política energética do país tenha de rever esse quadro. “No Nordeste sobra energia enquanto que o Rio Grande do Sul, que é importador e tem condições favoráveis para desenvolver a matriz eólica, não recebe incentivos. Lá tem fundos de apoio, incentivos estaduais, o que gera distorção”, comenta.
Segundo Renato Rolim, coordenador de Energia e Comunicações da Secretaria de Infraestrutura do Ceará (Seinfra), o maior volume de investimento vai para o Nordeste porque os índices de eficiência dos ventos são mais favoráveis. “Conforme comprovaram os estudos do primeiro Atlas Eólico, o potencial de energia eólica do Ceará é um dos maiores do Brasil em virtude do grande favorecimento dos ventos. Essa potência chega a 6 mil MW e, juntando-se ao litoral do Rio Grande do Norte, o potencial eólico-elétrico dessa área equivaleria à hidrelétrica de Itaipu, ou seja de 12 mil MW, o que corresponde a 25% da oferta de energia para todo o Brasil,” afirma, ao reforçar que o Ceará e o Rio Grande do Norte são líderes em potencial eólico no País.
O Strata Building, em Londres, é um edifício de 42 andares em Londres e obtém 8% de seu consumo de energia das três turbinas eólicas instaladas em sua cobertura. Elas devem gerar até 50 MWh de eletricidade por ano.
Segundo Rolim, no futuro a energia eólica poderá reduzir o custo final de produtos de empresas que tenham na energia seu principal insumo, como a indústria de cimento e a de alumínio, devido a contínua redução dos custos de investimento. Ele informa que, hoje, o investimento para se produzir um Mega Watt (MW) de energia elétrica de fonte eólica é de US$ 2 milhões, superior ao que é necessário para produzir por fonte hidrelétrica, atualmente a US$ 600 mil. Entretanto, o Brasil depende muito dos componentes importados, o que ainda encarece a implantação das usinas. “Não temos uma produção 100% nacionalizada nem dominamos essa tecnologia em sua totalidade. Por conta dessa situação, o governo federal eliminou as exigências de percentual de nacionalização dos equipamentos para as eólicas instaladas no País”, diz. Na opinião de Rolim, o investimento privado no setor pode ser benéfico para as grandes empresas. “A instalação de usinas eólicas pelas próprias indústrias poderia reduzir o custo da produção em grande escala, basta ver o preço da energia produzida no mercado livre”, afirma.
Para o presidente da Ventos do Sul, por enquanto a tendência é que a energia fique mais cara no mundo todo por conta dos investimentos para ampliar a oferta. “No Brasil, o que encarece a energia é a alta carga tributária. Uma medida que poderia ser adotada com rapidez seria a redução do ICMS, reduzindo o custo da energia para o consumidor final”, diz Magadan. Segundo ele, o preço da eólica no último leilão foi de R$ 130,00 por MW, valor abaixo das demais fontes alternativas, perdendo apenas para as grandes hidrelétricas.
SEGURANÇA ENERGÉTICA
Telmo Magadan afirma que “precisamos pensar a energia como uma questão macro estratégica, global-humanidade-Brasil”. Segundo ele, o mundo tem um desafio que é ampliar a oferta de energia e reduzir as emissões de gases que provocam o efeito estufa e garantir a eficiência da produção e do consumo, deixando de desperdiçar energia. “Temos que ampliar o fornecimento de energia sustentável e garantir o crescimento econômico. É preciso equilibrar isso no mundo,” afirma.
Ele comenta o fato de o Brasil ser uma dádiva da natureza. “Temos todas as fontes de energia, hidrelétrica, solar, eólica, biomassa, nuclear, carvão, petróleo. Hoje, 90% da energia que produzimos vêm de fontes renováveis, sendo 85% de hidrelétricas e 5% de fontes alternativas, com a eólica dando um grande salto nos últimos anos”. Em sua opinião, “para garantir a segurança energética, o país não pode excluir nenhuma fonte de geração de energia, buscando a redução da poluição, baixando as emissões de gases que provocam o efeito estufa. No Brasil a geração de energia eólica cresce em progressão geométrica”, afirma.
Segundo Magadan, desde a criação do Proinfra o preço da energia eólica tem caído continuamente. É bom lembrar, diz ele, que a energia eólica é complementar ao sistema. “Mesmo assim a tecnologia do sistema melhora a cada dia e, hoje, o fator de capacidade de gerar energia por ano aumenta em torno de 15 a 20%, conclui.