(Folha de São Paulo) – 04/07/12
A Prefeitura de São Paulo decidiu ontem cassar o alvará de funcionamento do shopping Pátio Higienópolis.
O empreendimento não conseguiu comprovar ter as vagas de estacionamento exigidas pela prefeitura e, por isso, será notificado nos próximos dias. A partir disso, terá cinco dias para recorrer.
Caso não consiga decisão judicial favorável a seu funcionamento, o shopping deve ser lacrado até o fim deste mês –segundo cálculos de técnicos da prefeitura, considerando os prazos legais.
Se for fechado, o shopping terá de iniciar um novo processo de licenciamento, que pode levar meses.
A Folha confirmou a decisão de cassar o alvará com pessoas ligadas ao gabinete do prefeito Gilberto Kassab (PSD) e do secretário das Subprefeituras, Ronaldo Camargo.
No “Diário Oficial” da Cidade desta quarta-feira, a Supervisão Técnica de Uso do Solo e Licenciamentos da Subprefeitura da Sé publicou despacho com a cassação do auto de licença de funcionamento do shopping, que havia sido emitido pela última vez em 3 de novembro de 2011.

A decisão foi tomada porque a garagem principal do prédio funciona sem licença.
A prefeitura diz que só descobriu a irregularidade após a Folha entrevistar Daniela Gonzalez, ex-diretora financeira da BGE, empresa do grupo Brookfield sócia do empreendimento, que acusa o shopping de ter pago propina para obter alvarás de reforma.
Um dos pagamentos, diz a ex-executiva, foi para que a prefeitura aceitasse um contrato falso de estacionamento, documento necessário para que a Secretaria dos Transportes desse o seu aval para o licenciamento do prédio.
A pasta exigiu 1.994 vagas de garagem para os clientes do shopping. Os quatro andares de estacionamento do prédio teriam de abrigar 1.524 carros. Os demais ficariam, segundo o contrato, em dois estacionamentos privados – um a 300 metros, o outro a 1 km do shopping.
A Folha checou e, nesses dois locais, nunca houve nenhum convênio com o shopping Higienópolis.
Integrantes da equipe de treinamento da Folha contaram o número de vagas do estacionamento principal e constataram que, no máximo, ele comporta 1.175 veículos, menos que o mínimo exigido.
Fiscais da subprefeitura também constataram que há vagas a menos, mas não divulgaram a informação.
Por não cumprir as exigências, o alvará do estacionamento não foi concedido.
OUTROS SHOPPINGS
O shopping Pátio Paulista, que segundo Daniela Gonzalez também pagou propina para obter benefícios, está em situação semelhante: a prefeitura abriu processo de cassação do alvará porque o estacionamento não tem licença de funcionamento.
A prefeitura também constatou que um lava-rápido funciona em um local que seria reservado para vagas.
O prazo para o shopping sanar as irregularidades termina no fim desta semana. Se não cumprir o prazo, também terá o alvará cassado.
O shopping Plaza Mooca, inaugurado em novembro, funciona sem alvará e a prefeitura informou que irá interditá-lo no dia 20 porque não conseguirá, até lá, cumprir todas as exigências para obter o alvará.
Os shoppings dizem que cumprirão todas as exigências da prefeitura no prazo.
OUTRO LADO
O shopping Pátio Higienópolis não se manifestou ontem sobre a cassação de seu alvará de funcionamento nem sobre o fim do prazo para a comprovação da regularidade do empreendimento.
De acordo com o shopping, os advogados estavam reunidos no fim da tarde e início da noite e não seria possível obter qualquer informação.
A Multipark, que administra o estacionamento, informou que a situação está regular, pois deu entrada, no dia 21, no pedido de alvará.
Segundo Sergio Morad, da Multipark, a situação regular do shopping não deve ser confundida com a atividade do estacionamento.
Sem dar detalhes, ele diz que, mesmo que o alvará não saia, há uma solução provisória: deixar de cobrar estacionamento dos clientes.
A empresa não comentou a informação de que há menos vagas do que o previsto.