Cyrela/Alencar: Aporte readequará fluxo de caixa e tornará Tecnisa interessante


(Estadão) – 24/06/16

O investimento da Cyrela em sua concorrente Tecnisa foi uma decisão baseada na relação de cordialidade entre as empresas e na avaliação de uma boa oportunidade de negócio, afirmou o diretor Financeiro e de Relações com Investidores da Cyrela, Eric Alencar, em entrevista ao Broadcast.

“As companhias mantêm cordialidade e uma relação grande entre seus controladores. A Tecnisa nos informou que gostaria de readequar o seu fluxo de caixa e nos convidou a avaliar. Nós entendemos que, com a readequação, seria interessante”, explicou Alencar. “Gostamos das pessoas que trabalham lá e suas competências, olhamos os números e enxergamos um bom valuation. É puramente uma operação de oportunidade”, complementa.

O aumento de capital anunciado pela Tecnisa será no montante de R$ 200 milhões, com emissão de 100 milhões de ações. Pelo acordo, a Cyrela se comprometeu com um aporte mínimo de R$ 73,3 milhões e máximo de R$ 100 milhões, ou seja, entre 36,6% e 50% do total. A Cyrela não detém, hoje, participação na concorrente. Após o aporte, terá uma fatia na faixa de 13% a 19%, tornando-se a segunda maior acionista, e passará a ter direito à indicação de um membro para o Conselho de Administração.

Alencar projeta um aporte próximo do piso anunciado, em R$ 73,3 milhões, mas ressaltou que há disposição em atingir o teto de R$ 100 milhões caso os demais acionistas não acompanhem a subscrição. No entanto, a compra de ações da Tecnisa vai parar por aí, disse o diretor. O estatuto da concorrente tem uma cláusula (poison pill) que obriga os acionistas que chegarem a uma participação de 20% a fazer uma oferta pelo controle da companhia, a um preço diferenciado.

O executivo ponderou que o aporte não representa uma iniciativa para consolidação do setor. “Não é uma aquisição, não é uma consolidação. Seremos minoritários com assento no conselho. O papel será de ajudar, e não mudar a agenda da Tecnisa”, disse Alencar.

A formalização do negócio ainda dependerá de aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Por se tratar de um segmento altamente pulverizado, não são esperadas restrições por parte do poder público.

A Tecnisa é uma das empresas de construção listadas na bolsa mais endividadas. Sua alavancagem (relação entre dívida e patrimônio líquido) estava em 77,5% ao fim do primeiro trimestre. No período, a companhia contava com R$ 188 milhões no caixa. A incorporadora tem pela frente neste ano R$ 205 milhões em vencimento de dívidas corporativas e R$ 433 milhões de recebíveis de clientes.

AUMENTO DE CAPITAL FOI ALTERNATIVA MAIS PRUDENTE PARA ALIVIAR O CAIXA
A decisão da Tecnisa pelo aumento de capital foi uma alternativa de prudência para aliviar o fluxo de caixa pressionado pelo mau momento da economia brasileira e do mercado imobiliário, afirmou o diretor-presidente da companhia, Meyer Joseph Nigri, em entrevista ao Broadcast.

“Infelizmente, a empresa não está bem devido aos distratos de 5 mil unidades ao longo dos últimos três anos, que deram um furo grande no caixa. Estávamos entrando em um momento delicado. Então, foi mais prudente buscar uma solução”, disse o executivo. “Devido ao cenário brasileiro com juros altos, preferimos fazer um aumento de capital em vez de buscar dívida corporativa”, completou.

Segundo o executivo, os recursos serão usados para reduzir o endividamento da companhia. Analistas consultados pelo Broadcast mais cedo estimaram que a alavancagem da Tecnisa deverá baixar do atual patamar de 70% para 50% após a injeção de recursos. No fim do primeiro trimestre, a incorporadora contava com R$ 188 milhões no caixa e tinha pela frente no ano R$ 205 milhões em vencimento de dívidas corporativas e R$ 433 milhões de recebíveis de clientes. “Com o aporte, a dívida corporativa praticamente zera”, observou Nigri.

A Tecnisa anunciou ao mercado um acordo de subscrição pelo qual fará um aumento de capital de R$ 200 milhões, com emissão de 100 milhões de ações. Pelo acordo, Nigri fará um aporte mínimo de R$ 51,3 milhões e máximo R$ 70,0 milhões, o equivalente a 25,6% a 35,0% do total. O executivo tem participação de 62,5% na incorporadora como acionista direto e por meio da sociedade JAR Participações.

A outra parte ficará por conta da incorporadora concorrente Cyrela, que se comprometeu com um aporte mínimo de R$ 73,3 milhões e máximo de R$ 100,0 milhões, ou seja, entre 36,6% e 50% do total. O restante será subscrito pelos acionistas minoritários. Em caso de sobras, o controlador e o novo acionista consideram complementar.

Nigri acrescentou que o plano de monetização da Tecnisa continua, mas sem urgência. “Agora teremos mais condições de negociar uma venda melhor. Uma eventual alienação de ativo seria uma decisão estratégica, menos baseada em necessidade de caixa”, explicou.

A incorporadora vem encerrando suas operações em praças consideradas menos rentáveis, como Manaus, Salvador, Brasília e Curitiba. Como não há plano de novos lançamentos nessas regiões, os terrenos nessas capitais foram colocados à venda. Em contrapartida, a Tecnisa tem concentrado suas atividades na cidade de São Paulo e na região metropolitana, onde passará a trabalhar mais com imóveis na faixa de R$ 250 mil e R$ 350 mil, financiados com recursos oriundos do FGTS. A companhia planeja lançar um empreendimento nesse nicho já no segundo semestre.

TENHO VONTADE PESSOAL DE REMOVER ‘POISON PILL’ DO ESTATUTO
O diretor-presidente e acionista controlador da Tecnisa, Meyer Joseph Nigri, comentou em entrevista ao Broadcast que tem uma vontade pessoal de remover do estatuto da empresa uma cláusula conhecida no mercado pelo jargão “pílula de veneno” (poison pill). O mecanismo determina que um acionista que chegar a 20% de participação na companhia está obrigado a fazer uma oferta pública de ações (OPA) pelo controle.

Segundo Nigri, o assunto chegou a ser conversado durante negociação com a Cyrela em torno do aumento de capital, que será protagonizado pela concorrente. No entanto, ele frisou que não houve “absolutamente” nenhum acerto sobre isso. A remoção da cláusula, por enquanto, é um desejo particular seu.

“Não vou negar que eu teria vontade de remover a poison pill”, comentou o executivo após ser questionado pela reportagem. Questionado também se avaliaria uma participação maior da Cyrela a partir de uma eventual supressão da cláusula, ele afirmou que “vê com bons olhos”. Nigri acrescentou que cogita levar o tema da revisão da cláusula para discussão na próxima reunião do conselho de administração da Tecnisa – mas não confirmou se fará isso, de fato.

O executivo explicou que a gestão da Tecnisa não mudará com a entrada da Cyrela. A participação da concorrente ficará na faixa de 13% a 19%, dependendo do montante subscrito. Além disso, terá direito a um assento no conselho de administração. “A Cyrela é uma parceira e entendeu que está fazendo um bom negócio com o aporte. Nesse momento, não há caráter de fusão. É meramente um aumento de capital”, disse.

Nigri acrescentou que a presença da Cyrela, controlada pelo empresário Ellie Horn, representa um sinal positivo para a Tecnisa. “O nome Cyrela e o nome Ellie Horn são fortes tanto no Brasil quanto no exterior. A Tecnisa vai ficar mais saudável pelo aporte. E também porque a Cyrela enxerga valor na empresa, o que é uma sinalização de credibilidade”, completou Nigri.

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