As startups que colocaram Curitiba no mapa da inovação


(Gazeta do Povo) – 26/03/18

“Liga da justiça das startups curitibanas”, empresas com média de cinco anos, aportes milionários e centenas de funcionários despontam, e colocam Curitiba no mapa da inovação

Em 2012, executivos do Alibaba desembarcaram em Curitiba para negociar com uma pequena startup que haviam encontrado pelo Google. A cidade estava fora do radar da inovação; mas os chineses fecharam o contrato que abriria as portas do Brasil para o Aliexpress com a Ebanx. A fintech hoje faz parte de uma espécie de “Liga da Justiça” das startups curitibanas. Empresas que cresceram, ganharam projeção internacional, e pavimentaram o caminho para uma nova geração de empreendedores.

Por aquela época, Marcel Malczewski — que nos anos 1980 fundou a Bematech, startup que virou uma grande empresa de tecnologia — começou a mentorar alguns jovens “startupeiros”. “Eles chegavam aqui e sequer tinham pesquisado se aquela ideia já existia em São Paulo ou Nova York”. Havia muita imaturidade.

Mas isso mudou rápido. As ideias ruins começaram a desaparecer, e projetos mais consistentes, a pipocar. Na primeira metade da década de 2010, Curitiba viu nascer Ebanx, Contabilizei, Já Entendi, Olist, Pipefy, Beauty Date, Hi Technologies. A MadeiraMadeira é de 2009.

É uma turma que está voando alto. Com mais de 300 funcionários, a Ebanx recebeu, em janeiro, um aporte de R$ 95 milhões de um fundo americano (o primeiro deles no Brasil). A MadeiraMadeira ocupa seis andares de um prédio no Centro da cidade — e tem planos de faturar R$ 1 bilhão em 2019.

As curitibanas atraem atenção de gigantes do Vale do Silício. O fundo Redpoint A., que tem nomes como Netflix e Zendesk no seu portfólio, fez um aporte na Pipefy. Fundada em 2015, a startup oferece soluções de gestão para oito mil empresas em mais de 140 países. Um terço dos seus clientes é dos Estados Unidos. A empresa nasceu dentro de uma das maiores aceleradoras do mundo, a 500Startup, no Vale do Silício.

O Kaszek Ventures, dos fundadores do Mercado Livre, investiu na Contabilizei. Primeira empresa a prestar o serviço de contabilidade online, no Brasil, a startup tem foco em pequenas e micro empresas. Hoje são cerca de 200 funcionários (a grande maioria em Curitiba) para atender os mais de cinco mil clientes.

Em sua gênese, a Olist foi uma lojinha de artesanato no shopping Omar, no Centro de Curitiba. Hoje é uma das maiores lojas virtuais do país. A startup tem mais de 2 mil lojistas cadastrados, e vende dentro dos maiores marketplaces do país, como Walmart e Submarino. A Olist já recebeu investimento dos fundos Redpoint eventures, Valor Capital e da 500Startup.

Amadurecer foi preciso
Com uma média de cinco anos de existência, as startups pioneiras de Curitiba fizeram a lição de casa. São empresas com base tecnológica, um custo de operação proporcionalmente baixo, e alta capacidade de ganhar escala.

Não foi mera coincidência que todas pipocaram na mesma época. Marcel Malczewski, que acompanhou o processo primeiro como observador e, depois, como investidor, acredita que dois fatores foram necessários. Os projetos ficaram mais consistentes e os empreendedores, melhores.

O puxão de orelha que veio de Israel
A trajetória dos fundadores demonstra isso. Antes da Pipefy, Alessio Alionço criou uma startup de compras coletivas voltada para o público de Curitiba. Quando tentou escalar, era tarde demais. Aos 24 anos, o empreendedor foi estudar em Israel. O país, que enfrenta uma série de conflitos geográficos e tem população similar à do Paraná, é um dos principais hubs de inovação do mundo, rivalizando com o Vale do Silício, na Califórnia.

“Todo empreendedor em Israel pensa em vender para os EUA, para a Europa, desde o primeiro dia. No Brasil vocês não fazem isso porque são preguiçosos. Se acomodam com um mercado local gigante e são preguiçosos”, Alionço ouviu, de um mentor da aceleradora israelense NESTech. A crítica doeu na alma. “Porque ele estava me descrevedo”.

Alionço forjou a Pipefy na 500 Startups, uma das três principais aceleradoras do mundo. Em seu primeiro pitch (apresentação do projeto) foi expulso do palco pela desorganização e inglês capenga. Terminou como melhor da turma, e com investimento de capital semente que era quase o dobro do praticado no Vale do Silício, na época. A Pipefy já nasceu global. Hoje, um terço dos clientes da empresa estão nos Estados Unidos.

A história se repete. Tiago Dalvi começou com uma loja de artesanato. Foi na 500 que mudou totalmente o modelo de negócios e surgiu a Olist. Alphonse Voigt, da Ebanx, empreendeu em série até os 37 anos, quando criou a startup. Vitor Torres fundou a primeira aceleradora do Paraná, encubou a Contabilizei, e acabou fazendo da startup seu principal negócio.

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