(Época Negócios) – 17/11/20
A cidade inteligente do futuro está se materializando no estacionamento de um prédio comercial em Munique, na Alemanha. Com um novo programa que usa inteligência artificial, é possível saber quando a garagem está lotada, aumentar o preço com base na demanda, sugerir que o motorista use outro estacionamento e até mesmo recompensá-lo por não dirigir até o estacionamento mais próximo do trabalho.
O projeto está sendo liderado pela Fetch.ai, empresa de tecnologia com sede no Reino Unido. O objetivo é controlar os preços e o uso das vagas de estacionamento do prédio de forma dinâmica e desestimular as pessoas de dirigirem ao trabalho, recompensando-as com passes de transporte público.
“Pode dizer que está tudo bem se você estacionar mais perto, vai pagar mais; se você estacionar mais longe, será cobrado menos. Mas nós o recompensamos por realizar certas ações — como não usar o estacionamento próximo ao trabalho”, disse Humayun Sheikh, CEO da Fetch.ai.
Sheikh diz que se o programa de teste for expandido para garagens de estacionamento em toda a cidade, ele poderia cortar o uso de automóveis em 10% ao ano, resultando em uma redução de mais de 37 mil toneladas de emissões de CO2, o que é equivalente às emissões do uso anual de energia de quase 4 mil casas.
Colocar um preço no estacionamento com base na demanda demonstrou reduzir os quilômetros percorridos pelos veículos e as emissões de gases de efeito estufa em São Francisco, nos Estados Unidos, onde um sistema de preços responsivo à demanda está em vigor desde 2017. Quando o preço do estacionamento reflete sua relativa escassez, ele pode sinalizar para as pessoas que, se decidirem dirigir, isso vai custar caro. Quando menos pessoas têm a opção de estacionamento gratuito, menos escolhem dirigir, reduzindo o congestionamento e transferindo os fluxos de tráfego para áreas menos movimentadas. “Isso deve tornar o gerenciamento de tráfego e congestionamento muito mais eficiente”, diz Sheikh.
O estacionamento gratuito foi demonstrado por pesquisadores como Donald Shoup, professor de planejamento urbano da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, ter altos custos para as cidades em termos de congestionamento, emissões de gases de efeito estufa e tempo gasto dirigindo por aí procurando estacionamento. Um outro estudo de comportamento do tráfego descobriu que os motoristas que cruzavam para estacionar eram responsáveis por uma média de 34% do tráfego nas áreas centrais.
A abordagem da Fetch.ai visa agilizar o processo de encontrar uma vaga de estacionamento usando um aplicativo que os motoristas podem configurar para reservar automaticamente vagas de estacionamento quando disponíveis, com base em preços pré-determinados e configurações de localização.
No teste de estacionamento Fetch.ai, o agente na garagem poderia acessar um sistema de câmeras que analisa as vagas disponíveis e define os preços de acordo com a demanda. O agente no aplicativo de uma pessoa seria capaz de saber que, por exemplo, a pessoa precisará dirigir até o escritório esta manhã e negociará diretamente com o agente do estacionamento para determinar o preço do estacionamento com base na demanda.
“Os agentes dizem uns aos outros quando está ocupado e quando não está. Então, se você quiser estacionar em um lugar, ele poderá dizer que as próximas cinco horas estão abertas”, diz Sheikh. “E depois há outros 10 agentes em outros lugares [pela cidade], e todos eles podem saber coletivamente se há congestionamento na área ou não.” Com os preços e recompensas do sistema, o uso dessa garagem pode ser controlado de forma mais rígida do que se fosse grátis ou cobrando uma taxa que fosse independente da demanda. Mas um estacionamento só pode ter impacto positivo.