(Valor Econômico) – 30/03/16
A EZTec continuará a manter o foco na redução de estoques neste momento em que o fundador da companhia e presidente do conselho de administração, Ernesto Zarzur, avalia que o setor vive sua pior crise. “Não acho que haverá quebradeira do setor, mas a recuperação será muito lenta”, diz ‘seu’ Ernesto, acrescentando que considera “terrível” o aumento das taxas de juros de financiamento imobiliário pela Caixa Econômica Federal.
No cenário atual, avalia o senhor de 82 anos – que ainda vai todos os dias à empresa que fundou -, as incorporadoras estão fragilizadas, com raras exceções, caso da Cyrela, sempre citada por ele como referência positiva entre os concorrentes. De acordo com ‘seu’ Ernesto, o setor é o mais prejudicado pela crise atual.
O empresário conta que, neste ano, deixou a rotina de visitar obras da EZTec. Até passa em frente, mas não desce mais do carro. Uma das razões é a preocupação da esposa, por causa do estado avançado da idade, mas a outra causa é a dificuldade de encontrar os trabalhadores em um momento em que não pode assegurar a eles contratação em uma próxima obra, devido “à redução do ritmo de atividades”.
A companhia tem projetos aprovados e em aprovação para lançar cerca de R$ 600 milhões, mas o ritmo de vendas é o que ditará a apresentação desses projetos. “Vamos fazer lançamentos, senão a empresa desaparece”, afirma o empresário.
Os lançamentos deste ano estarão concentrados em projetos para a classe média-alta, como o Le Premier Moema, parceria com a Cyrela, com preço médio de R$ 2,5 milhões por unidade.
A companhia tem buscado outras frentes de atuação, como alugar salas comerciais inicialmente destinadas à venda e considera a possibilidade de entrar na faixa 2 do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida.
Desde o ano passado, a EZTec começou a locar salas comerciais, mas a iniciativa tem ganhado fôlego, em 2016, com a negociação do aluguel de lajes inteiras do prédio EZ Mark, cujo habite-se é esperado para o próximo mês. A companhia negocia também a locação da torre B do EZTowers. Os dois empreendimentos se localizam na zona Sul da cidade de São Paulo.
A incorporadora terá projeto-piloto da faixa 2 do Minha Casa, Minha Vida, em Poá, na Região Metropolitana de São Paulo, mas é provável que o lançamento não ocorra neste ano. A faixa 2 é financiada com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), segmento que não sofreu as fortes restrições de crédito das demais faixas de renda.
Segundo ‘seu’ Ernesto, atuar nesta faixa é uma possibilidade também de aproveitar parte da mão de obra dispensada ‘a medida que os empreendimentos são entregues. A companhia já teve dois projetos enquadrados no programa, mas desenvolvidos com parceiros. Este será o primeiro com atuação exclusiva.
Futuramente, se a atuação na baixa renda for considerada satisfatória, a EZTec poderá criar uma marca própria para o segmento.
Em 2016, os distratos da EZTec continuarão elevados, segundo o diretor financeiro e de relações com investidores da companhia, Emilio Fugazza. Os cancelamentos de vendas vão diminuir, de acordo com Fugazza, quando o volume de entregas cair e quando o cenário econômico melhorar.
Zarzur diz que os problemas da forma de condução da economia pelo governo resultam no aumento do desemprego e, consequentemente, no crescimento dos distratos. “É uma roda-vida. Precisamos recuperar o emprego e ter empresários de proa”, afirma o presidente do conselho da EZTec.
No acumulado de 2015, o lucro líquido da companhia teve queda de 6%, para R$ 444 milhões. A receita líquida teve queda de 14%, para R$ 814,36 milhões. O reconhecimento por meio de equivalência patrimonial de projetos operados com parceiros acrescentou R$ 115,2 milhões ao lucro líquido anual. Fechou o ano com caixa líquido de R$ 165,6 milhões.
No quarto trimestre, o lucro líquido da EZTec caiu 21% ante o mesmo período de 2014, para R$ 104 milhões. A receita líquida da companhia teve queda de 11%, para R$ 224,39 milhões. A incorporadora informou que houve impacto de R$ 25,1 milhões de provisão para distratos no resultado quarto trimestre.
A margem bruta da empresa caiu de 52,3% (último trimestre de 2014) para 47,1% em igual período do ano passado. Já a margem líquida ficou em 46,4%, ante 51,9% um ano antes. As margens tiveram queda devido a descontos concedidos para acelerar a venda de imóveis. Em 2015, a EZTec reduziu os estoques em R$ 200 milhões. “Nos projetos daqui para frente, vamos buscar margens próximas às históricas”, afirma Fugazza.
A incorporadora continuará a fazer promoções de vendas para reduzir os níveis de estoques, pressionados pelos distratos, além de manter a oferta de crédito direto para compradores após a entrega das chaves. Dos R$ 400 milhões de recebíveis de imóveis prontos, R$ 200 milhões têm financiamento próprio da EZTec.