(Estado de S.Paulo) – 07/11/17

A recuperação dos lançamentos e das vendas de imóveis ao longo do ano ainda não deve se refletir em melhora no resultado líquido das incorporadoras no terceiro trimestre. Segundo analistas, a tendência é que empresas voltadas para consumidores de baixa renda, dentro do Minha Casa Minha Vida (MCMV), seguirão com bons números. Já as que atuam com moradias de médio e alto padrão devem permanecer no vermelho, apesar da melhora nas operações.

As incorporadoras MRV e Direcional, com atuação focada no ramo de moradias populares, mostraram números operacionais fortes até aqui. “Operacionalmente falando, o segmento de baixa renda ainda está indo muito bem”, comenta o analista Gustavo Cambaúva, em relatório do BTG Pactual.

A MRV, líder do setor, deve ter lucro de R$ 156 milhões no terceiro trimestre, alta de 4% ante o mesmo período do ano passado, impulsionada pelo aumento das vendas, de acordo com média das projeções de seis bancos (Itaú BBA, BTG Pactual, Morgan Stanley, JPMorgan, Bradesco BBI e Santander).

Por sua vez, a Direcional deve sofrer prejuízo de R$ 15,8 milhões (conforme Itaú BBA, BTG Pactual, JPMorgan, Bradesco BBI e Santander). Apesar do mercado favorável, a Direcional reestruturou seu modelo de negócios e ainda está amadurecendo os novos projetos dentro do programa MCMV.

Assim como nos últimos trimestres, o cenário é favorável para essas empresas em função da grande demanda por imóveis neste setor e pela disponibilidade de recursos do FGTS para financiar as compras.

Para os próximos meses, o grande debate é se o FGTS continuará com fôlego suficiente para sustentar o crédito imobiliário e as contratações no MCMV, uma vez que o governo federal analisa a possibilidade de destinar parte do dinheiro para outros fins, como quitação de crédito consignado e financiamento estudantil.

“O setor de baixa renda deve continuar sendo negativamente afetado pelas ameaças de falta de financiamento do FGTS”, observam os analistas Luiz Maurício Garcia e André Mazini, do Bradesco BBI, ponderando que esses problemas não devem aparecer nos balanços deste trimestre.

Média e alta renda
As incorporadoras que atuam no segmento de média e alta renda esboçaram aumento nos lançamentos e nas vendas neste ano, graças à queda dos juros e da inflação, além da incipiente geração de empregos. Os dados indicam o começo de uma inflexão no mercado imobiliário. Ainda assim, será insuficiente para tirar as companhias da série de prejuízos.

“É verdade que as vendas aumentaram no trimestre, mas o faturamento continuará pressionado por algum tempo, levando a resultados fracos”, avalia Cambaúva.

A Cyrela Brazil Realty deve apresentar prejuízo de R$ 20,8 milhões no terceiro trimestre, revertendo o lucro do mesmo trimestre do ano anterior, segundo analistas de cinco bancos (Itaú BBA, BTG Pactual, Morgan Stanley, JPMorgan, Bradesco BBI e Santander).

Em linhas gerais, analistas preveem que a Cyrela tenha recuo na receita em função do menor volume de obras. Além disso, é esperado que a companhia perca rentabilidade graças à oferta de descontos para venda dos imóveis e à menor diluição dos custos fixos.

O cenário é bem parecido para as outras incorporadoras do setor. No caso da Even, a expectativa é de prejuízo ajustado de R$ 29,2 milhões, mais que o dobro do ano anterior, conforme a média das projeções das mesmas casas.

No caso da Gafisa, a previsão é de prejuízo de R$ 120 milhões, uma piora de 26% na comparação anual, segundo as mesmas casas acima, menos Santander.

A exceção neste setor será a Eztec, com o lucro inflado pela venda não recorrente de um prédio corporativo inteiro. Com isso, a incorporadora deve apresentar lucro de R$ 308 milhões, 6,2 vezes mais do que um ano antes.