(Estado de S.Paulo) – 28/03/20
Os grupos donos de redes de shopping centers já adiaram ou isentaram a cobrança de aproximadamente R$ 1 bilhão em aluguéis e taxas para os lojistas, de acordo com estimativa da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), que representa as donas de empreendimentos, como Iguatemi, Multiplan, BRMalls e Aliansce, entre outras.
Desde que a pandemia do coronavírus estourou no País, a recomendação da Abrasce é que o aluguel seja postergado durante a crise. A cobrança ficará para um momento futuro, em termos a serem discutidos. Também foi sugerido o desconto na taxa de condomínio (que envolve rateio de energia, limpeza, segurança, entre outros) e a redução ou isenção do fundo de promoção (usado para ações promocionais e publicidade do shopping).
“Foram R$ 1 bilhão em valores adiados ou isentados até agora”, afirmou o presidente da Abrasce, Glauco Humai, durante debate online que também teve a participação do presidente da Associação de Lojistas de Shoppings (Alshop), Nabil Bonduki.
As medidas, porém, ainda são insuficientes para aliviar a tensão com os lojistas, que viram as vendas irem à lona depois que todos os 577 centros de compras do País foram fechados por decretos púbicos. Estão funcionando apenas lojas de atividades essenciais, como supermercados e farmácias.
O presidente da Alshop afirmou que tem recebido uma enxurrada de pedidos dos lojistas para que o aluguel dos pontos não seja apenas adiado, mas que fique isento ao menos durante o período em que os shoppings estejam de portas fechadas. “Vamos continuar discutindo isenção do aluguel enquanto shoppings ficarem fechados”, frisou.
Bonduki avaliou que o Brasil atravessa uma crise de liquidez profunda, e que as pequenas empresas do setor não vão ter fôlego para sustentar suas operações paradas por mais de 30 a 40 dias. O presidente da Alshop cobrou de governo federal e governo estaduais mais entendimento para que haja uma previsão de prazo para reabertura dos shoppings. “Precisamos de uma luz no fim do túnel. Não da para ficar de braços cruzados, tendo que pagar toda uma equipe com faturamento zero”, reclamou.
O presidente da Alshop também fez um apelo para que haja equilíbrio entre as medidas para preservação da saúde e da economia. “Não pode privilegiar só a saúde e quebrar a economia”, afirmou. “Em nome de vidas, vamos simplesmente correr o risco de ter mais vidas em risco”, disse, acrescentando que espera uma onda de desemprego, violência e caos no País se as medidas de isolamento forem prolongadas em excesso.
Por sua vez, o presidente da Abrasce ponderou que é preciso ter consciência de que o varejo vão voltará a funcionar normalmente logo após o fim do isolamento. Ainda vai levar tempo par o consumidor retornar todos os seus hábitos, como ir aos shoppings, bares e restaurantes. “Pela primeira vez na história do Brasil todos os cinemas estão fechados. Nesse fim de semana, não teve nenhum cinema aberto no País”, comentou.
Ele estimou ainda que alguns shoppings poderão ser abertos gradualmente a partir da semana que vem, a depender do andamento da pandemia e do comportamento da população.
Humai frisou ainda que é preciso cobrar medidas de apoio à liquidez por parte dos governos, especialmente do governo federal. Ele citou como exemplos a serem seguidos os pacotes de sustentação lançados na Alemanha e nos Estados Unidos, que passam de 10% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto no Brasil ainda não chegou a 5%.
Nesse ponto, Bonduki concordou. “As ações do governo só serão aplaudidas quando o dinheiro estiver na mão das pessoas. É fundamental que órgãos da imprensa cobrem os bancos, cobrem os governos, para terem agilidade”, completou.