(Gazeta do Povo) – 29/03/09
Produtos para obras mais rápidas e a busca por edificações eficientes, que respeitem o meio ambiente e proporcionem conforto ao usuário, foram o foco da 17ª edição da Feira Internacional da Indústria da Construção Civil, a Feicon
A 17ª edição da maior feira da construção civil da América Latina, a Feira Internacional da Indústria da Construção Civil (Feicon Batimat), que movimentou o Pavilhão de Exposições do Anhembi, em São Paulo, ao longo dessa semana, centrou seus esforços em produtos que barateiam obras e fazem economia de recursos naturais, como água e luz, ajudando também o bolso do consumidor final.
A Feicon 2009 trouxe cerca de dois mil lançamentos em produtos de todos os tipos, de fios elétricos a metais sanitários – grande parte com foco na sustentabilidade, palavra que tem significado complexo, mas pode ser resumida em um conjunto de ações que minimizam o impacto ambiental e o uso de recursos naturais. Produtos de alto desempenho e com recursos inovadores, como uma ducha que, além de cromoterapia, tem sistema de som e aromatização, também fizeram sucesso.
Ao todo, foram 650 expositores de 21 países – 23 empresas do Paraná. O volume de negócios ainda não foi estimado, mas a julgar pelos números do ano passado (mais de R$ 400 milhões) serão altos.
No primeiro dia do evento, na última terça-feira, o prefeito da cidade de São Paulo, Gilberto Kassab, abriu a feira falando da “importância do setor para a economia do país, como locomotiva do desenvolvimento brasileiro, principalmente em tempos de crise”. O prefeito parabenizou os organizadores e participantes da feira pela preocupação com o bolso do brasileiro. Esse pensamento esteve presente em muitos produtos e, em especial, em uma casa que foi a sensação da Feicon e foi motivo de interesse do secretário estadual de Habitação de São Paulo, Lair Krähenbühl, durante uma visita monitorada, para um estudo mais apurado para a construção de residências populares: a Casa Acqua.
Ecologicamente correta
A Casa Acqua é uma edificação conceito com 100 metros quadrados, sete cômodos e dois andares e foi construída no pavilhão da Feicon em 15 dias com uma série de produtos e técnicas sustentáveis que consideraram as condições climáticas da capital paulista como base. O projeto, uma ação conjunta da Missão Econômica da França no Brasil, da Fundação Vanzolini e da Reed Exhibitions Alcântara Machado (organizadora da Feicon), é do arquiteto Rodrigo Mindlin Loeb e a execução da obra da Inovatech Engenharia. A construção da obra seguiu os critérios do Referencial Técnico de Certificação da Construção Sustentável – Processo Acqua (Alta Qualidade Ambiental), programa de certificação inspirado no sistema francês HQE (Haute Qualité Environnementale) e adaptado pela Fundação Vanzolini à realidade climática e econômica brasileira.
O sistema foi desenvolvido por professores do departamento de Engenharia de Construção Civil da USP, pela Inovatech Engenharia e outros pesquisadores a partir da cooperação do Centre Scientifique et Technique du Bâtiment (CSTB) – instituto francês que é referência mundial em pesquisas da construção civil.
Construída com a frente voltada para a face norte, a Casa Acqua recebe a luz do sol o dia todo, porém com um anteparo (uma pequena parede atravessada na janela) que, embora deixe passar a claridade, não permite a incidência direta dos raios solares no interior do imóvel, o que colabora para o conforto térmico. Tijolos de solo cimento (mistura de argila e cimento que não exige queima), placas de OSB (aglomerado) de reflorestamento e madeira certificada cobertas por embalagens longa vida recicladas completam o visual “natureba” da casa, que ainda tem outro detalhe chamativo: um telhado invertido.
“A inclinação para dentro do telhado (feito com fibra de celulose reciclada impermeabilizada com betume e protegida com resina) permite um acúmulo maior de água da chuva para o sistema de reaproveitamento (para tarefas que não exigem água potável, como lavar a calçada). Além de colaborar com o conforto térmico da edificação, já que não fica em contato direto com o forro, criando um “bolsão de ar” que diminui a influência climática externa na ambientação interna da casa, deixando a temperatura agradável”, explica o coordenador da Casa Acqua pela Inovatech Engenharia, Luiz Henrique Ferreira.
O piso da casa é elevado alguns centímetros do chão para facilitar a manutenção da residência. “Quando preciso basta levantar algumas das placas de madeira e trocar qualquer encanamento ou rede elétrica danificada. O piso elevado facilita a obra como um todo e a manutenção da casa depois. Em caso de qualquer defeito basta levantar algumas placas de madeira do piso, sem a necessidade daquela quebradeira de alvenaria e desperdício de material de construção”, exemplifica Ferreira.
Outros produtos como torneiras e válvulas de descarga econômicas, divisórias de dry-wall (gesso acartonado) para deixar os ambientes acusticamente agradáveis e iluminação planejada e automatizada, que evita desperdício de energia elétrica, são algumas das várias características que fazem da Casa Acqua um modelo prático e com bom custo-benefício (entre R$ 1.200 e R$ 1.600 o metro quadrado) de moradia brasileira.
Entre os fornecedores que ajudaram a construir a edificação conceito está a Leroy Merlin, a Mobix (medidores individuais de água e gás), a HP Pisos Elevados e Onduline do Brasil (telhado de celulose) e os grupos Lafarge (dry-wall) e Legrand (iluminação automatizada).
Importados: França se destaca
Entre os 21 países que estiveram presentes na Feicon, China e França tiveram espaços reservados especialmente para eles que, em um momento de crise mundial, viram no Brasil uma perspectiva de bons negócios. Só a França, segundo a Ubifrance, agência francesa semelhante à nossa Agência Brasileira de Promoção às Exportações e Investimentos (Apex), trouxe 14 empresas (quatro a mais que no ano passado) com novidades em tecnologia construtiva e decoração, boa parte voltada para a sustentabilidade.
Um revestimento de placas cerâmicas externo para paredes e telhados, de rápida instalação e durabilidade (não é preciso trocar nunca), foi um dos destaques franceses. Vendidas pela Terreal, as placas têm vários formatos e tons naturais, obtidos com a mistura de mais de uma tonalidade de argila e podem ser instaladas, segundo o representante da empresa no Brasil Yannick Laporte, por qualquer empresa já acostumada com processos como o das fachadas inteiras de vidro. “O sistema não exige nenhuma preparação especial da alvenaria ou estrutura metálica antes da aplicação, não precisa de manutenção (a não ser limpeza por causa do pó) e é 100% reciclável.” O custo do produto importado é de R$ 130 a R$ 500 o metro quadrado, fora os valores de instalação.
Painéis de madeira made in Ponta Grossa
Entre as 23 empresas paranaenses na Feicon Batimat 2009, a LP Building Products Brasil, com fábrica em Ponta Grossa e escritório em Curitiba, foi destaque, com uma “simulação” de uma casa de 100 metros quadrados construída com o método “framing” ou de “molduras” de metal, em que painéis de madeira tipo OSB (Oriented Strand Board, em inglês) são encaixados e parafusados. A empresa comprou a divisão de OSB da Masisa no ano passado.
Uma das grandes possibilidades desse tipo de construção, que já é largamente utilizada nos Estados Unidos, é a aplicação para habitações populares. “A construção no método framing com os painéis OSB é mais rápida, mais limpa e, se feita em grande escala, também mais barata”, explica o engenheiro civil e técnico da LP Brasil, André Morais da Silva.
Segundo Silva, a construção de uma casa popular de 40 metros quadrados levaria de 10 a 15 dias para ficar pronta nesse sistema. “Acredito até que é justamente uma aplicação assim que falta para divulgar o sistema no Brasil, quebrar paradigmas e formar mão-de-obra. Uma obra de 1.000 casas formaria cerca de 500 profissionais nesse sistema que não é difícil, apenas diferente.” Os painéis de OSB podem receber qualquer tipo de acabamento, tinta, cerâmica, etc.
Para a fachada externa a LP Brasil também lançou o LP SmartSide, linha de painéis que reproduz a aparência de madeira natural e vem pronto para pintar, com proteção contra fungos e cupins. Os painéis têm 20 anos de garantia estrutural.
Outro produto lançado na feira com foco nas construções residenciais é o LP Membrana, produto que vem dos Estados Unidos que nada mais é do que uma manta que, colocada entre os painéis e o revestimento, funciona como uma barreira à umidade externa, ao mesmo tempo em que deixa o vapor interno de água sair para fora da construção. Com isso, o produto evita a formação de fungos e mofo no interior da residência.
Loft tecnológico
Além da Casa Acqua e da construção em painéis OSB da LP Brasil, o Loft Hi-tech da iHouse, empresa de automação brasileira com 10 anos de mercado e sede em São Paulo, também foi uma das sensações da Feicon Batimat 2009. O loft de 150 metros quadrados mostrou todo o leque de opções em automação, que oferece pelo celular o controle, à distância, de todos os recursos de uma residência (controle de entrada e saída da porta e também de um condomínio, iluminação, climatização, acionamento de equipamentos como o chuveiro e assim por diante).
Assinado pelo arquiteto Márcio Guirado, o projeto, que tem sala, cozinha gourmet, sauna e banheiro (além de um espaço de destaque para a banheira Smarthydro, assinada pelo designer Guto Índio da Costa), custou cerca de R$ 500 mil. “É a primeira vez na Feicon que recursos de automação tão modernos ficam acessíveis a um público tão grande”, comentou o gerente comercial da iHouse, Daniel Hornos.
Além da automação, o loft também traz outros luxos, como um painel de pedra ônix translúcido semiprecioso (R$ 24 mil o metro quadrado) da Galleria della Pietra, que fica sobre a cabeceira de uma cama de design holandês (a Royal M4IR da Auping), com atestado de qualidade da coroa real holandesa.