(Estadão) – 17/06/15
A economia brasileira atravessa momentos difíceis. Porém, dentro de um processo cíclico recorrente em nosso País. Talvez a diferença fundamental entre este momento e outros que o antecederam é a associação muito estreita da crise econômica com outra político-institucional das mais complexas.
Como o restante dos setores produtivos, o mercado imobiliário também passa por um momento delicado e depende da estruturação de soluções que permitam o reinício do processo de crescimento.
Se compararmos o primeiro trimestre de 2015 com igual período do ano passado, é nítido o quanto o setor é afetado pelo desequilíbrio do ambiente interno: lançamentos de apenas 2 mil unidades residenciais, o que representa uma queda de 50%, e comercialização de pouco mais de 2,7 mil unidades, uma retração de 27%.
Está claro que enquanto persistirem as incertezas nos campos político e econômico será difícil reverter esse cenário. Ademais, fatos novos vêm agravar a situação e postergar as perspectivas de retomada. A Caixa, maior agente financeiro do setor, está fechando as torneiras do crédito imobiliário. Reduziu em 50% a parcela do financiamento para o imóvel usado e aumentou os juros, afastando centenas de potenciais compradores.
– Dedicação e criatividade para atravessar turbulências, pois o ciclo de crescimento virá.
Com o desemprego e os saques nas cadernetas de poupança, estão se exaurindo os recursos para o setor. Uma das alternativas para solucionar, de imediato, esse problema é a possibilidade de destinar parte do depósito compulsório dos agentes financeiros ao Banco Central para a aplicação no financiamento habitacional.
De qualquer forma, nos momentos de crise criam-se oportunidades. O mercado imobiliário, fiel à sua missão de promover crescimento econômico e espaços construídos para a população, deve encontrar soluções e caminhos para alcançar esses objetivos.
A cidade de São Paulo tem um novo Plano Diretor Estratégico, com novas diretrizes de desenvolvimento e novos paradigmas a serem absorvidos pelo mercado. Porém, os lançamentos residenciais em 2015, que, em sua maioria, refletirão projetos baseados na legislação anterior, devem sofrer uma que da em relação aos volumes de 2014. O desempenho das vendas, capaz de ser impulsionado por promoções e boas oportunidades de compra, dependerá também da disponibilidade de recursos para os financiamentos.
No que diz respeito ao segmento de salas comerciais, que, entre 2009 e 2013, lançou na cidade de São Paulo 28.618 unidades, quantidade maior do que a somatória dos 11 anos anteriores (1998 a 2008), a recuperação é muito mais dependente do desempenho econômico e tende a ser mais lenta do que a dos residenciais. A tendência é que esse mercado, até que seja retomado o crescimento econômico, opere com lançamentos em torno de 1.700 unidades ao ano, próximo ao desempenho de dez anos atrás.
Nos condomínios logísticos, também fortemente atrelados ao consumo e, portanto, ao desempenho da economia, a vacância deve subir de 2% a 3% este ano sobre uma taxa atualmente de 16%, em São Paulo.
A situação é difícil, mas existe um mercado funcionando e, embora com dificuldades, devemos encontrar as alternativas para seguir operando. Precisamos de dedicação e criatividade para atravessar esse período de turbulências, preparando nos para o ciclo de crescimento que certamente virá.