(Estadão) – 19/08/15
Tradicionalmente, o mercado imobiliário apresenta melhor desempenho no segundo semestre de cada ano. Primeiros semestres são sempre mais complicados para potenciais compradores e investidores, seja pelas despesas do início do ano com IPTU, IPVA, seguros, férias, matrículas escolares etc., seja pelo Carnaval, que também adia decisões importantes.
Hoje, porém, é praticamente impossível prever qual será o comportamento do setor daqui até o final do ano. “O ambiente de incertezas, fruto da crise política e econômica, impede prognósticos. De um lado, temos a boa notícia da alocação de recursos para financiamentos pela Caixa, no programa Pró-cotista (dirigido àqueles que contribuem para o FGTS), e da disposição do Banco do Brasil em manter suas operações de crédito imobiliário. De outro lado, entretanto, temos problemas que dificilmente serão superados a tempo de salvar o segundo semestre”, avalia o presidente do Secovi-SP, Claudio Bernardes.
No rol dessas dificuldades estão incluídos aspectos como a falta de confiança; o grande número de distratos, provocado por uma avaliação mais rigorosa na concessão de financiamentos pelos agentes; insegurança e queda na renda dos compromissários compradores.
“Também não há sinalização clara sobre o futuro comportamento da poupança, ao mesmo tempo em que taxas de juros mais elevadas acabam por inviabilizar modelos alternativos de funding”, diz Bernardes.
Além disso, o estoque de unidades à venda na cidade de São Paulo, que é o principal mercado habitacional do País, cresceu cerca de 65% em relação ao estoque médio dos últimos anos, o que vem provocando queda nos lançamentos, com reflexos importantes na oferta de empregos.
O Plano Diretor atual impacta os custos de produção. Porém, se a nova Lei de Zoneamento, e, discussão, trouxer ainda maior desequilíbrio para o processo, será muito difícil a aquisição de moradias por uma grande parcela dos paulistanos. Portanto, quem puder não deve adiar a compra.
“Os futuros empreendimentos na Capital exigirão muita criatividade dos empresários para oferecer imóveis que caibam no bolso dos compradores. Mas não é possível fazer milagres. Em função da elevação dos custos de produção, boa parte das incorporadoras passou a atuar em cidades da região metropolitana, onde o preço dos terrenos é mais baixo, e isso não é bom para a cidade de São Paulo”, adiciona o presidente do Sindicato.
“Vivemos, hoje, uma incógnita. Tanto que mantemos a projeção feita no início do ano: queda de 23% a 25% volume de lançamentos e entre 15% e 20% nas vendas. A questão é ver como sobreviveremos até que o ambiente econômico melhore. Teremos de voltar ao financiamento direto? Quais serão as novas fontes de recurso? Para onde caminhará a economia brasileira? Estas são dúvidas que tentaremos responder na Convenção Secovi deste ano, cujo objetivo maior é encontrar saídas para o mercado”, conclui Bernardes.